Freixo cobra investigação de possível ligação de deputados do MDB presos na Lava Jato com morte de Marielle - Tribuna NF

Freixo cobra investigação de possível ligação de deputados do MDB presos na Lava Jato com morte de Marielle

Prestes a completar cinco meses – serão 150 dias no sábado (11) –, as mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes ainda são um mistério. Em entrevista ao RJ2 nesta quinta-feira (9), o deputado Marcelo Freixo (PSOL) cobrou que a Divisão de Homicídios investigue a possível participação de três deputados do MDB envolvidos na Lava Jato: Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo.

A ligação de políticos no assassinato foi discutida em reunião no dia 14 de junho, entre dois delegados da Divisão de Homicídios, procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e o deputado Marcelo Freixo. A reunião foi na sede do MPF, no Centro.

Fontes do Ministério Público Federal confirmaram para a equipe da TV Globo o encontro. O deputado, também. A polícia preferiu não comentar esse passo da investigação.

Na pauta da reunião, a suspeita de ligação do crime com uma das investigações mais rumorosas e importantes do país: a Operação Lava Jato. Uma ação movida pelo deputado Marcelo Freixo poderia ter motivado a morte de Marielle.

“Essa reunião aconteceu. Nós conversamos no Ministério Público, porque os delegados da investigação do caso da Marielle queriam saber se nós havíamos conversado, no período da denúncia que fiz aqui na Assembleia Legislativa contra o deputado [Edson] Albertassi, na sua indicação ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ).”

Assassinato de vereadora Marielle Franco segue sem solução (Foto: Renan Olaz/CMRJ)Assassinato de vereadora Marielle Franco segue sem solução (Foto: Renan Olaz/CMRJ)
Cadeia Velha

Em novembro de 2017, o Ministério Público Federal estava prestes a deflagrar a operação Cadeia Velha, um desdobramento da Lava Jato no Rio. Investigavam os deputados estaduais do MDB Edson Albertassi, Paulo Melo e Jorge Picciani – então presidente da Assembleia Legislativa (Alerj).

Havia a suspeita de que o grupo tramava uma manobra para prejudicar a investigação. Um dos alvos, Edson Albertassi foi indicado para uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. No TCE, ganharia foro privilegiado e levaria a competência da investigação da Lava Jato para o Superior Tribunal de Justiça.

A nomeação atrasaria o processo, retardaria as prisões e beneficiaria também os deputados Paulo Melo e Jorge Picciani.

A oposição questionou a escolha de Albertassi. Num encontro com procuradores do Ministério Público Federal, Marcelo Freixo afirmou que entraria com uma ação na Justiça para barrar a indicação de Edson Albertassi no TCE.

A oposição conseguiu a liminar em segunda instância, em 13 de novembro. Albertassi perdeu a vaga e, consequentemente, o direito ao foro privilegiado.

No dia seguinte, a força-tarefa da Lava Jato levou o deputado para depor coercitivamente. Logo depois, os deputados Edson Albertassi, Paulo Melo e Jorge Picciani foram presos pela Operação “Cadeia Velha”. Os três já são réus, acusados de receber mais de R$ 100 milhões em propina da “caixinha da Fetranspor”, a Federação das Empresas de Ônibus do Rio.

RJ2: O senhor acha que essa ação que o senhor que impediu a posse do deputado Albertassi pode ter motivado a morte da Marielle?

Freixo: “Eu já tinha denunciado com ações o grupo do PMDB há muito tempo. Eu nunca ganhei na Justiça uma ação contra esse grupo. Desta vez, eu ganhei. Desta vez, eles foram impedidos de assumir o Tribunal de Contas. Isso gerou uma consequência que eles foram presos. Evidente que algo se quebrou. Alguma coisa mudou na relação dentro da Assembleia Legislativa, que certamente gerou ódio e raiva isso tem que ser investigado”.

RJ2O senhor já prestou depoimento?

Freixo: “Não. Não prestei depoimento. Não fui chamado ainda. A hora que for prestarei. Os delegados conversaram comigo e com os procuradores, falaram do interesse nessa linha de investigação sobre o caso Marielle e afirmaram que, em breve, perguntaram se nós toparíamos depor.. Tanto eu quanto os procuradores nos colocamos à disposição para depor na hora que a Delegacia de Homicídios entendesse que fosse necessário. Isso foi no dia 14 de junho.”

Antes de ser vereadora, Marielle Franco foi assessora do deputado Marcelo Freixo por dez anos. O deputado diz que a sociedade precisa de uma resposta das autoridades que investigam o caso.

“São cinco meses sem resposta. São cinco meses onde a gente não admite mas que algum grupo seja poupado de qualquer investigação. Se nós não pegarmos essas pessoas vão matar de novo. Essas pessoas vão matar mais um vereador, mais um deputado, mais um representante, isso não é bom pra ninguém”, disse Freixo.

Crime político, diz Jungmann

O deputado federal acredita que os mandantes da execuções têm “poder político”.

“A Mariellle não é mais importante do que ninguém. A morte da Marielle é uma morte que tem que ser investigada como qualquer outra morte deve ser investigada. Mas é fato que quem matou a Marielle tem poder político. O crime da Marielle foi o mais sofisticado da história do Rio de Janeiro. E é um crime que provavelmente não foi cometido só contra a Marielle. É um crime pra gerar medo, é um crime pra fragilizar a democracia”, declarou o deputado Marcelo Freixo, do PSOL.

O ministro da segurança pública, Raul Jungmann, também acredita em crime político. “Esse assassinato da Marielle envolve agentes do Estado. Envolve, inclusive, setores ligados, seja a órgãos de controle do Estado, seja a órgãos, inclusive, de representação política”, disse o ministro.

Principal linha de investigação

A principal linha de investigação da Divisão de Homicídios ainda é baseada no depoimento de uma única testemunha, ouvida em maio. Essa testemunha apontou o vereador Marcello Siciliano, do PHS, e o miliciano e ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, como mandantes do assassinato de Marielle Franco.

A testemunha contou que a motivação do crime foi uma desavença entre o vereador Siciliano e Marielle. Ela estaria desenvolvendo ações comunitárias na Zona Oeste, em áreas de interesse da milícia. O vereador e o miliciano negam as acusações.

Quatro pessoas já foram presas, desde a execução, por outros crimes, supostamente ligados a Orlando Curicica. Eles

O deputado Marcelo Freixo também comentou essa linha de investigação da polícia.

“Em áreas onde a política se faz com violência física, com ameaças, como disputa de milícias, a Marielle não tinha uma votação expressiva. Porque é difícil ter. Então, ela não representava uma ameaça eleitoral a grupos armados que dominam determinados lugares do Rio de Janeiro.”

Promotor sairá do caso

O promotor do Ministério Público estadual, Homero de Freitas, que estava à frente das investigações, não vai mais cuidar do caso Marielle Franco. Ele entrou de férias e, em setembro, será promovido a procurador do MP.

O RJ2 procurou a Polícia Civil para saber porque Freixo e os procuradores não foram ouvidos para saber de possíveis ligações com o assassinato, mas a assessoria de imprensa se limita a dar mesma resposta, de que o caso Marielle Franco está sob sigilo.

Fonte: G1

Alerj

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