‘Eu não dialogo com a morte’, diz Paes após ser chamado de ‘ditador’ por Bolsonaro - Tribuna NF

‘Eu não dialogo com a morte’, diz Paes após ser chamado de ‘ditador’ por Bolsonaro

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O prefeito Eduardo Paes (PSD) respondeu nesta sexta-feira (17) a críticas que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) lhe dirigiu na live desta quinta-feira (16). Bolsonaro comparou Paes a um “ditador” ao criticar a obrigatoriedade de vacina da Covid para todos os servidores do Município do Rio.

“Eu não dialogo com a morte”, declarou Paes.

“O que tem nos movido permanentemente é o amor à vida. As ações políticas deste governante aqui se dão a partir de gestos de compaixão, de empatia com os cidadãos que vêm passando por essa situação”, emendou.

O prefeito acrescentou que, a despeito da nota técnica do Ministério da Saúde que deixava de recomendar a vacinação de adolescentes, vai terminar de aplicar a primeira dose em cariocas de 12 e 13 anos e vai manter a previsão das datas para a segunda dose a esse público.

Por estoques baixos, porém, a prefeitura não tem previsão de atender 12 e 13 anos. Nesta sexta, os postos recebem meninos de 14 anos. No sábado (18), haverá repescagem para 20 anos ou mais e dose de reforço para 90 anos ou mais.

A prefeitura também liberou eventos para até 500 pessoas e autorizou público no jogo do Vasco no próximo domingo (19), em São Januário.

O que disse Bolsonaro?

O presidente citou em sua live semanal a obrigatoriedade do servidor carioca de se vacinar — derrubada esta semana por uma liminar.

“O prefeito do Rio de Janeiro obrigando o servidor público a tomar vacina. Eduardo Paes, a Coronavac tem alguma comprovação científica? Por que você faz isso? Que maldade é essa? São os projetos de ditadores no Brasil. Um é Eduardo Paes, no Rio de Janeiro”, afirmou o presidente.

“Nós vimos muitos governadores fazendo coisas terríveis durante a pandemia, como toque de recolher, lockdown, confinamento, prisões, entre outras barbaridades”, emendou Bolsonaro.

O que Paes respondeu?

Paes disse que tem tentado “não politizar essa discussão sobre a vacinação”. “Mas, diante das falas do presidente, não poderei deixar de fazer um comentário.”

“Eu quero dizer, com muito respeito e formalidade ao senhor presidente da República, que eu não dialogo com a morte. O que tem nos movido permanentemente é o amor à vida. As ações políticas deste governante aqui se dão a partir de gestos de compaixão, de empatia com os cidadãos que vêm passando por essa situação”, declarou o prefeito.

“O que me move aqui e o que tem levado minha ação permanente na busca de superar essa pandemia é a solidariedade com as muitas famílias enlutadas deste país. Eu não sei se o presidente da República tem capacidade de se sensibilizar com isso — quero crer que sim”, continuou.

“Talvez o presidente da República não conheça esses dados, mas o Brasil é um país que tem um conjunto grande de municípios, principalmente pelo interior, e parte da economia dessas cidades é sustentada pela aposentadoria de aposentados que infelizmente perderam suas vidas. Então nós temos famílias enlutadas, como é o caso da minha, mas temos também famílias que perderam as suas condições de sobrevivência”, destacou.

Valmar Souza Paes, pai do prefeito do Rio de Janeiro, morreu de Covid em 25 de junho.

“O que vai nos nortear aqui vai ser a ciência. Nós não acreditamos em teses delirantes. Nós trabalhamos respeitando a vida e não dialogando com a morte, como parece fazer permanentemente o senhor presidente da República desde que essa pandemia começou”, emendou.

“Talvez seja a insensibilidade que faz com que o senhor presidente da República tenha devaneios tão assustadores como a gente tem visto ao longo dos últimos tempos. Especialmente quando a gente lida com vidas humanas. É uma completa falta de sensibilidade, de empatia, de respeito ao próximo e um permanente diálogo com a morte.”

Vacinação de adolescentes

Após responder a Bolsonaro, Paes afirmou que “a cidade do Rio de Janeiro vai continuar vacinando os adolescentes até os 12 anos de idade”.

“Vamos, sim, aplicar a segunda dose naqueles adolescentes que já tomaram a primeira dose. Vamos, sim, continuar fazendo o reforço vacinal para as pessoas acima de 60 anos de idade. E, se necessário for, vamos, sim, continuar aplicando novas doses a partir do ano que vem.”

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, estima que uma remessa chegue até terça (21), para vacinar meninos e meninas de 12 e 13 anos.

”É inadmissível ter vacinas no estoque do Ministério da Saúde levando dias para serem liberadas. Segurar doses em estoque é criminoso. Não se pode fazer isso no meio de uma pandemia”, declarou o secretário.
“Se liberarem o que falta, na próxima semana teremos 300 mil doses de vacina para cidade do Rio de Janeiro, que é suficiente para cumprir o calendário dos adolescentes, fazer a segunda dose e a dose de reforço”, previu.

‘Nota absurda’

Soranz também comentou o recuo do Ministério da Saúde sobre a vacinação de adolescentes.

“Nós fomos surpreendidos com uma nota técnica do ministério das mais absurdas possíveis, que suspende a vacinação em adolescentes. Uma nota técnica que não corresponde à verdade”, afirmou.

“A vacina da Pfizer é segura para adolescentes e utilizada em vários países. Talvez seja uma das vacinas mais aplicadas no mundo depois da AstraZeneca. Então, não vejo nenhuma fundamentação científica para cancelar essa vacinação a partir de efeitos adversos”, continuou.

Soranz disse ainda que o Ministério da Saúde mentiu ao afirmar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) não apoia a imunização em adolescentes. “A OMS recomenda, sim, a vacinação dos adolescentes. E a nota técnica sugere a suspensão com uma intenção que não explicita.”

“O Ministério da Saúde demorou adquirir as vacinas, demorou para assinar o contrato com a Pfizer, assinou um contrato aquém do que deveria ter assinado e no momento falta vacina. Então a desculpa dessa nota técnica de possíveis efeitos adversos, utilizada com uma comunicação totalmente desorganizada, não se aplica. Esse é um padrão que o Ministério da Saúde vem tendo ao longo de toda essa campanha de vacinação”, declarou Soranz.

G1*

Alerj

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