Megaoperação contra corrupção mira policiais civis e militares
Rio – A Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança (Sinte), as corregedorias das polícias Civil e Militar e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), ligado ao Ministério Público Estadual (MPRJ), fazem uma megaoperação, na manhã desta quinta-feira. A ação envolve mais de 200 policiais em vários bairros do Rio e o objetivo é cumprir 45 mandados de prisão: 23 policiais civis, sendo dois delegados; sete policiais militares, um bombeiro militar, advogado e outras 12 pessoas. Até 8h, 33 pessoas tinham sido presas, sendo 19 policiais civis.
O delegado Rodrigo Santoro está foragido. Já o delegado Thiago Luiz Martins da Silva se apresentou na 5ª DP, no Centro do Rio, por volta de 8h30. Mais cedo, a polícia esteve na casa de ambos na Taquara e Tijuca, respectivamente, e não os encontraram. O chefe de cartório aposentado da Polícia Civil Delmo Fernando Batista Nunes foi preso na Barra da Tijuca.
Segundo a denúncia, os alvos extorquiam quem cometia atividades criminosas e são acusados de organização criminosa, corrupção passiva e ativa e concussão (crime praticado por funcionário público quando ele exige vantagem indevida para si ou para outro). Também vão ser cumpridos sete mandados de busca e apreensão – sendo dois contra policiais civis, um contra agente penitenciário e quatro envolvendo outras pessoas.
Investigação
As investigações para a operação começaram há cerca de um ano a partir de informações de que agentes da segurança pública extorquiam pessoas que cometiam atividades ilícitas. Entre os alvos da quadrilha estavam até presos, que conseguiam liberdade através do bando.
Ao longo das investigações foi descoberto que existiam varias células dentro da quadrilha. Uma era denominada “administração” e teria como líder o delegado Rodrigo Sebastian Santoro Nunes. Preso na manhã de hoje, Delmo Fernandes Baptista Nunes, era braço direito do delegado. Outro com influência no esquema e que exercia papel de importante na quadrilha seria o também delegado Thiago Luis Martins da Silva. Os presos estão sendo levados para a Cidade da Polícia, no Jacaré, na Zona Norte.
Rodrigo Santoro trabalha atualmente na Delegacia de Acervo Cartorário (Capital), mas já foi lotado na 34ª DP (Bangu), 35ª DP (Campo Grande), 36ª DP (Santa Cruz), Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Niterói e na Delegacia de Roubos e Furtos (DRF). Já Thiago Luís deveria estar de plantão na Central de Garantias Norte, na Cidade da Polícia. Ele, que também já trabalhou na 34ª DP, chegou a sair de casa de moto, mas não chegou à CG-Norte nesta manhã.
Como funcionava o esquema
Para o Ministério Público, o grupo estava reunido em torno de um objetivo comum: identificar pessoas que estivessem fora da lei, seu potencial econômico e fazer “operações” policiais contra elas, sempre com a intenção de pega-las em flagrante comentando algum tipo de crime. Após isso, eles exigiam uma quantia muito alta em dinheiro para que os suspeitos não fossem presos ou tivessem as mercadorias apreendidas.
A investigação identificou que qualquer pessoa que praticasse algo ilegal poderia ser vítima do bando. O MP identificou extorsão contra vendedores de mercadorias piratas, ambulantes, postos de gasolina, bingos, donos de veículos clonados e comerciantes em situação irregular.
Ainda de acordo com o MP, a quadrilha chegou a fazer ameaças e até agrediram fisicamente as vítimas. O bando também chegou a desviar os materiais apreendidos para serem revendidos. O esquema também tinha informantes, responsáveis por levar aos agentes denunciados dados sobre possíveis alvos envolvidos com ilícitos e que poderiam gerar propina.
Delegado com nome de galã ostentava em rede social
Com nome e pinta de galã, o delegado Rodrigo Santoro, apontado como o líder da quadrilha, ostentava nas redes sociais. Em seu perfil no Facebook e de outras pessoas em comum, ele aparece em fotos em momentos de lazer com família e amigos em resort em Angra dos Reis e até em viagem internacional na neve. Com um salário líquido de quase R$ 17 mil, ainda assim Rodrigo Santoro fazia parte de um esquema para extorquir supostos criminosos.
“Sou intenso. Amo a vida, a família e os amigos. Busco incessantemente a felicidade”, se descreve na rede social o Russo, como é chamado por alguns amigos. Sua última postagem pública foi anunciando seu “casamento”, em 14 de fevereiro deste ano. “Como fomos morar juntos, decidimos mudar o status no Face, mais não houve cerimônia (sic)”, disse Santoro.
Alvo preso com arsenal de guerra
Um dos mandados de prisão foi contra Rafael Luz Souza, conhecido como Pulgão, oficial de cartório da Polícia Civil, que está preso desde julho deste ano.
Ele foi alvo de uma ação da Corregedoria da instituição e no momento da prisão com outras três pessoas, em uma boate na Barra, Pulgão estava co um arsenal de guerra, com cinco fuzis, oito pistolas, uma metralhadora antiaérea, uma arma de paintball e munições de vários calibres. Eles eram apontados como suspeitos de integrar uma milícia que atua em Realengo, Bangu e Campo Grande, na Zona Oeste.
Fonte: O Dia