Castro se aproxima de Lula e acena possível apoio à reeleição de Paes de olho em vaga no Senado em 2026
Em cálculo que envolve uma futura disputa ao Senado, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), se aproximou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seus aliados no estado. A movimentação ocorre em paralelo ao desgaste do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com investigações judiciais e a estremecimentos na base aliada do governador. Reservadamente, três interlocutores do governador e de Lula avaliaram ao GLOBO que Castro identificou um derretimento de seu capital político nos últimos meses, o que o levou a buscar pontes com o Planalto.
Castro acompanhou os dois dias da visita de Lula ao Rio, na semana passada, para o lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Vaiado pela militância de esquerda em atos públicos, o governador participou de um jantar reservado com Lula, a primeira-dama Rosângela Silva e os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Nísia Trindade (Saúde) na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD).
No encontro, descrito por um participante como “bastante restrito” e descontraído, Castro manteve-se perto de Lula e procurou sinalizar uma relação confortável com o núcleo petista. Também estavam no jantar representantes da classe artística próximos ao PT, como a empresária Flora Gil e o ator José de Abreu.
Laços reforçados
Castro também tem se aproximado de um apoio à reeleição de Paes em 2024, embora o PL queira lançar uma candidatura de oposição. Paes, segundo interlocutores, almeja concorrer ao governo estadual em 2026 em aliança com Lula. Lideranças do PT fluminense enxergam o governador disposto a uma composição que lhe dê apoio para disputar o Senado no mesmo ano, embora divirjam sobre a viabilidade deste plano — as vaias nos eventos com Lula, por exemplo, deram o tom das resistências a Castro na base petista.
O governador também procura reforçar laços com personagens que têm diálogo com o PT. Ex-filiado petista, o secretário de Gabinete do governo, Rodrigo Abel, deve ser o próximo indicado de Castro a uma vaga no Tribunal de Contas do Estado. Abel acompanhou o governador nos encontros com Lula, incluindo o jantar oferecido por Paes.
Em outra frente, Castro contratou o advogado Pedro Raphael Campos Fonseca, sócio do ex-deputado petista João Paulo Cunha, para compor sua defesa no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Castro tentava anular delações premiadas que o implicaram em desvios na Fundação Leão XIII, ligada ao governo estadual. A Corte Especial do STJ, contudo, negou o pedido; Castro deve recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O movimento do chefe do Executivo fluminense vai na contramão dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas, Romeu Zema (Novo), que buscam se cacifar como herdeiros políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Reeleito em primeiro turno com votação proporcionalmente mais expressiva do que Tarcísio e Zema, e em um estado onde Bolsonaro teve melhor desempenho na comparação com os vizinhos, Castro enfrenta impasses no início do novo mandato com o PL.
Enquanto os planos de Tarcísio e Zema viraram prioridade para os respectivos partidos, o PL do Rio trabalha em 2026 pela reeleição do senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho e herdeiro político natural do ex-presidente. Flávio já marcou posição como potencial candidato à prefeitura. Apesar de posteriormente ter recuado a pedido do pai, o movimento embaralhou o plano de Castro de lançar um aliado, Dr. Luizinho (PP), na capital. Luizinho, hoje secretário estadual de Saúde, deve reassumir o mandato de deputado federal e virar líder do PP na Câmara ainda neste ano, caso se confirme a nomeação do atual líder, André Fufuca (PP-MA), para um ministério.
Rusgas no PL
Líder do PL na Câmara e presidente do partido no Rio, o deputado Altineu Côrtes diz que a relação entre Castro e Lula é “institucional”. Castro acenou recentemente com a possibilidade de emplacar o deputado estadual Douglas Ruas (PL-RJ), aliado de Altineu, em uma secretaria. Segundo o parlamentar, contudo, a conversa ainda é “embrionária”:
— Douglas é um “fazedor” e ajudaria a dar mais dinamismo ao governo.
Interlocutores de Castro e de Altineu consideram “superado” um atrito entre ambos no início do ano, envolvendo a eleição à presidência da Assembleia Legislativa (Alerj), e que culminou na exoneração de apadrinhados do deputado da gestão estadual. Na ocasião, Castro apoiou seu aliado, Rodrigo Bacellar, contra a cúpula do PL fluminense.
Bacellar, que assumiu recentemente o comando do União Brasil no Rio, cobrou o governador em entrevista ao GLOBO a “sair da bolha”, sugerindo um isolamento, e considerou prematura a movimentação eleitoral para 2026. O puxão de orelha expôs arestas dentro da base de Castro pela preparação do terreno para a próxima eleição estadual. O presidente da Alerj deseja eleger aliados especialmente em prefeituras do Norte fluminense, sua base eleitoral. O PP, sob comando de Dr. Luizinho, se adiantou nas tratativas para filiar o atual prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, cuja família tem acumulado embates com Bacellar.
Outros partidos da base de Castro, como MDB e Republicanos, também disputam influência em prefeituras de grandes colégios eleitorais, buscando maior capilaridade antes da eleição de 2026.
Fonte: O Globo