20/09/2024
Política

Prefeito preso autorizou funerária que fraudou licitação a ‘meter a faca’, diz MP

O prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (PSD), é acusado pelo Ministério Público de Santa Catarina de autorizar que empresários “passassem a faca” e cobrassem preços abusivos pela prestação de serviços funerários. Ele foi preso nesta terça-feira em uma operação que combatia crimes associados à violação de licitações públicas na cidade. Ao total, foram cumpridos dez mandados de prisão preventiva em quatro municípios no estado, inclusive na capital.

A atuação do grupo foi exposta no ano passado após a repercussão do caso de um bebê de 6 meses de uma família de baixa renda que foi velado em um caixão precário, com aparência de já ter sido usado anteriormente. A ação foi denunciada pelo vereador Manoel Rozeng (PP) durante uma sessão da Câmara de Municipal em outubro do ano passado.

Na ocasião, ele disse que a família também havia relatado a cobrança de R$ 480 por uma coroa de flores e afirmou que teve que improvisar um véu para cobrir o corpo.

Acusações contra o prefeito

O papel de Clésio é descrito na denúncia do MP a partir de um encaminhamento de projeto de lei para a Câmara dos Vereadores. O novo texto reduzia o número de funerárias que concorreriam em uma licitação municipal de seis para quatro, restringindo a concorrência. Clésio também teria acompanhado de perto cada etapa do certame e agendado diversas reuniões com o núcleo empresarial interessado para negociar “benefícios ilícitos”, que não são descritos no documento.

Em uma ligação telefônica interceptada pela investigação, o empresário Gineides Júnior, acusado de liderar o esquema, comenta com um sócio sobre a postura do prefeito perante os empresários do ramo. Ele diz “que a única coisa que o prefeito não quer é reclamação do serviço funéreo” e reproduz uma suposta fala de Clésio:

“Cara, pode meter a faca, pode fazer o que você quiser, só não deixa a família: “Ai, porque eu não sei o quê… Eu quero um serviço perfeito”, teria orientado o prefeito.

Ao final do procedimento de licitação, Clésio teria assinado um decreto, cuja minuta foi escrita pelos empresários interessados, que entregava a administração do recém-criado Centro de Serviços Funerários nas mãos das concessionárias vencedoras.

Na denúncia, também são citados o secretário de Assistência Social, Bruno Ferreira, e os servidores públicos Juliano Deolindo e Juliane Barchinski. Eles são acusados de atuar como intermediadores das reuniões entre o prefeito e o núcleo empresarial, inclusive compartilhando documentos sigilosos e articulando decisões administrativas futuras.

Bruno também é mencionado em outro trecho do documento do MP por defender os empresários envolvidos no caso do enterro bebê de 6 meses em sessões na Câmara dos Vereadores e em entrevistas no rádio. Em paralelo a isso, a investigação chegou a interceptar áudios em que ele reconhecia que o caixão era “feio” e parecia “ter caído da mudança”.

Origem do nome da Operação Caronte

A operação Caronte faz alusão ao barqueiro de Hades (mitologia grega), que carrega as almas dos recém-mortos sobre as águas do rio Estige e Aquerante, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos.

Aqueles que não tinham condições de pagar certa quantia, ou aqueles cujos corpos não haviam sido enterrados, tinham de vagar pelas margens por cem anos.

Reação à prisão

Em um vídeo divulgado após a decretação de sua prisão, Clésio atribuiu as acusações a inimigos políticos, que poderiam querer prejudicar o nome indicado por ele para ser seu sucessor, o ex-secretário Vagner Espíndola.

— Eu tenho certeza da minha inocência. Jamais, em momento algum e o processo vai ficar livre. Não há dolo, não há intenção, não há vantagens, não há absolutamente nada, nada, nada que possa me incriminar — disse o político na gravação.

No passado, o prefeito se envolveu numa polêmica ao ameaçar cortar a luz de um evento que contaria com shows de artistas como Criolo e Planet Hemp. Antes do início das apresentações, ele usou as redes sociais para comunicar que deixou funcionários autorizados a fazer a interrupção do serviço de eletricidade caso houvesse “apologia às drogas” e “conteúdo sexual”.

Em 2021, o gestor municipal chegou a demitir um professor que exibiu clipe de Criolo em sala de aula. Na ocasião, classificou o conteúdo do rapper como “viadagem”.

Fonte: O Globo/ Acréscimo de informações da Redação Tribuna NF

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