27/07/2024
Política

Pedido de propina para delegados do RJ tinha códigos, diz MPRJ: ‘Vê aí um pixulé pros três’

As investigações do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (GAECO – RJ) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) mostraram que o delegado Maurício Demétrio intermediava pedidos de propina para o bicheiro Fernando Iggnácio, morto em 2020, informa o G1.

Segundo os promotores, Demétrio não atuava sozinho como agenciador do grupo criminoso dentro da Polícia Civil: a empreitada também contava com o ex-chefe da corporação, o delegado Allan Turnowski, preso na sexta-feira (9).

De acordo com a denúncia da operação Águia na Cabeça, em conversas com um interlocutor do bicheiro, Demétrio usava diferentes códigos para tentar omitir a distribuição de propina: pixulé, merenda, remédio.

“Tem que pensar o seguinte, sou eu e mais três, entendeu? Eu, pouco importa, o que importa são os três, sacou? Que a gente vai abordar em quatro. Aí, vê aí um pixulé pros três, entendeu? Iguais! Sacou? Tipo, cem, cem, cem! Sacou? É isso aí”, afirmou Demétrio em um dos áudios interceptados pelas investigações.

De acordo com a denúncia apresentada à Justiça, Turnowski atuava como um “agente duplo”: levava informações da quadrilha de Rogério Andrade para o grupo ligado ao bicheiro Fernando Iggnácio, assim como atuava no sentido oposto.

“Não, tranquilo! Deixa eu falar com ele, amanhã eu te respondo isso. Essa semana a gente toca. Beleza? Tá tranquilo. Pô, confirma com ele aquele pixulé lá, que ele disse que ia me arrumar, cara…”, afirmou Demétrio em outro diálogo com o mesmo homem da quadrilha de Fernando Iggnácio, a quem o delegado se refere várias vezes como “Urubu”.

Em outra conversa, o homem responsável pelo contato com a quadrilha de Fernando Iggnácio fala sobre dinheiro com Demétrio.

“Mas hoje mesmo pego com ele, já pago o remédio e lhe chamo”, disse.

O MPRJ afirma que Demétrio e Turnowski tinham um intenso contato para traçar estratégias para galgar cargos relevantes Polícia Civil, que potencializassem as atividades criminosas do grupo do qual faziam parte.

“Se ele me pegar vai te pegar, Guru. Tem que me proteger por você. Me esquece. Tá maluco? Nós somos um CNPJ, um CPF só. Irmãos de embrião!”, disse Turnowski em uma das mensagens investigadas pelo MPRJ.

Encobrir rastros

A denúncia do Ministério Público afirma que Demétrio e Turnowski adotavam o que os investigadores passaram a chamar de “medidas antiforenses”, para reduzir as evidências e encobrir os rastros dos delitos que praticavam.

Entre as medidas adotadas, estava a preferência por encontros presenciais. O emprego de aplicativos de mensagens só era utilizado em casos inevitáveis, mas sempre com alertas de apagar as conversas e dando preferência para aqueles que imporiam mais dificuldades em caso de uma eventual investigação.

“Vamos apagando nossas conversas… seguro morreu de velho”, afirmou Turnowski em uma das mensagens de texto.

“Reseto geral”, responde Demétrio.

G1*

Alerj

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