Muita gente já assistiu, no teatro ou no cinema, a engraçadíssima peça de Hermanoteu na Terra de Godah - Tribuna NF

Muita gente já assistiu, no teatro ou no cinema, a engraçadíssima peça de Hermanoteu na Terra de Godah

Por Douglas da Mata

Eis a sinopse, disponível na Wikipedia:

“A peça conta a história de Hermanoteu, um urbano típico, obediente e bom pastor do tempo do Antigo Testamento da Bíblia. Na trama, Hermanoteu é um hebreu da Pentescopéia, que recebe uma missão de Jeová para libertar a Terra de Godah.[1] Em sua viagem, várias coisas inusitadas acontecem, interligando inúmeros elementos e personagens de diferentes tempos e lugares da História.”

Diante da nova polêmica em que se meteu o presidente do IMTT, em Campos dos Goytacazes, quando, primeiro deu seguimento às políticas recentes de humanização e organização na mobilidade urbana (antes tarde do que nunca), e depois voltou atrás, se desdisse, e deu uma solução pior do que antes existia, não resistimos ao uso da personagem, devido a coincidência dos nomes.

A Terra de Godah parece algo inalcançável, e o nosso bravo Hermanoteu, o Prefeito, parece cada vez mais desesperado, como a personagem do filme, pois a cada momento que a coisa parece andar, como no roteiro, há uma reviravolta e tudo anda para trás.

Seria também uma comédia a questão da mobilidade urbana em Campos dos Goytacazes, se não fosse trágica a situação.

Longe de nós falarmos em nome do prefeito, não cometeremos tal ousadia, nunca.

Mas eu tenho uma ligeira desconfiança de que se ele pudesse falar, para além da necessidade de manter o seu leque de alianças, e suportar os prejuízos de tamanha incompetência, ele diria:

Vá passear, Godah.

Na Terra de Godah não há transporte público de qualidade.

Sim, temos que concordar que a culpa não é só de Godah, mas já havia um caos anterior, provocado pelos filisteus da Cananéia…que antes se associaram aos vendilhões do templo.

Porém, governar é encaminhar soluções, e antes, indicar quais são os princípios que orientam tais soluções.

A Terra de Godah parece uma Torre de Babel, em se tratando de mobilidade urbana.

Há a tribo dos cabeças de biela, aqueles que entendem que a Terra de Godah deve se submeter a lógica dos motores, e há todos os demais, que entendem muito pouco do que acontece, mas só queriam ir e vir com segurança, conforto e certa eficiência.

Esses últimos, na sua enorme maioria, são desprovidos de quase tudo, pois não têm carros ou motocicletas, só andam em cima dos próprios pés, ou pedalam bicicletas.

Há os que fazem por opção “estética”, como aquelas propagandas do Itaú de lavagem socioambiental de imagem corporativa, os descolados, que usam as “bikes” (que às vezes custam o preço de um Fiat Palio 2016).

São esses, por incrível que pareça, que embora minoria, falam e pressionam Godah a agir com algum bom senso.

Enfim, o Prefeito Hermanoteu encontra-se em uma encruzilhada.

A cidade (a Urbe) está em disputa.

Já houve queima de pneus dos mercadores.

Agora, são os motociclistas, impulsionados pelas suas demandas econômicas, como empregados das empresas de aplicativos, porém se autodenominam “empreendedores ou autônomos”, que resolveram emparedar Godah.

Godah cedeu.

Não sabemos se com ou sem anuência do Prefeito Hermanoteu.

O fato é que o projeto de implantação das ciclofaixas subiu no telhado.

Como manter a mistura de bicicletas e motocicletas em fúria, desesperadas pela próxima entrega ou pelo próximo passageiro, compartilhando uma via de pouco mais de 2.80 m (se muito), com dois sentidos para os dois tipos de veículos?

Como multar infratores que invadirem as ciclofaixas, depois de misturar tudo em cima da ponte?

Em outras palavras:

Bicicletas indo e vindo, e motocicletas indo e vindo.

Como dissemos antes, não dá para saber qual a posição do Prefeito em uma hora dessas.

Há demandas eleitorais, há alianças políticas em jogo, há muita coisa.

No entanto, nós podemos dizer, em alto e bom som:

Afinal, quem manda na cidade?

Motociclistas?

Os comerciantes, que querem usar o espaço público como estacionamento privado para seus clientes?

As empresas falidas de ônibus, que nem “cagam, nem desocupam a moita”?

O morador de Campos dos Goytacazes, o visitante, enfim, qualquer pessoa que passe por aquela planície, tem ou não o direito de uma mobilidade urbana racionalizada e orientada pelos mais modernos conceitos de diminuição do uso do carro particular, da ampliação de transportes públicos, e o uso das calçadas pelos pedestres e das ciclofaixas pelos ciclistas?

Afinal, de quem é a Terra de Godah?

É só de Godah?

Hermanoteu vai conseguir libertar a Terra de Godah?

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