Em delação, Edmar Santos dá detalhes do suposto esquema de corrupção na saúde no governo Witzel - Tribuna NF

Em delação, Edmar Santos dá detalhes do suposto esquema de corrupção na saúde no governo Witzel

A GloboNews teve acesso aos vídeos da delação premiada do ex-secretário estadual de Saúde Edmar Santos. Edmar afirma que existia um esquema de corrupção na saúde envolvendo o governador afastado Wilson Witzel (PSC), com a sua participação.

O ex-secretário chegou a ser preso em julho do ano passado, num desdobramento da Operação Mercadores do Caos, que desvendou um esquema de fraudes na compra de respiradores no início da pandemia da Covid-19.

Ele fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, que foi homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A delação de Edmar foi a base para a Operação Tris In Idem, que em agosto resultou no afastamento de Wilson Witzel do cargo de governador, e também na prisão de Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC.

Em um trecho da delação, o ex-secretário explica como a propina seria arrecadada no esquema de corrupção.

Ele afirma que o grupo decidiu cobrar vantagens indevidas de organizações sociais e de empresas que tinham pagamentos atrasados a receber do Estado, os chamados “restos a pagar”

De acordo com o delator, o dinheiro arrecadado ia para um caixa único da propina, e era dividido entre ele, o governador Wilson Witzel, Pastor Everaldo, o empresário Edson Torres e Victor Barroso.

Segundo Edmar, Edson Torres e Victor Barroso eram operadores financeiros de Pastor Everaldo e cabia a Victor recolher a propina das empresas.

“Então, isso era feito: 30% pro secretário da pasta (no caso, pra mim); 20% pro governador Wilson Witzel; 20% pro Pastor Everaldo; 15% pro próprio Victor; e 15% pro Edson Torres. O Victor é uma pessoa que se dizia empresário. Entre outras coisas, seria dono, não sei se formalmente, da empresa de segurança Fênix, que faz transportes de valores. Inclusive ele citou verbalmente que ainda no governo Sérgio Cabral a empresa teria participado do esquema de transportes de valores ilegais àquela época, quando a empresa que tradicionalmente fazia isso ficou impossibilitada de fazê-lo”, afirmou Edmar Santos aos procuradores.
Em outro trecho da delação, Edmar Santos disse que depois da prisão de Gabriell Neves, que era seu subsecretário de Saúde, o governador Wilson Witzel e Pastor Everaldo ficaram muito preocupados com a possibilidade de Neves decidir virar delator e entregar o esquema de corrupção no governo.

Gabriell Neves foi preso em maio do ano passado (dois meses antes da prisao de Edmar) na primeira fase da Operação Mercadores do Caos, do Ministério Público do Rio. Atualmente cumpre medidas cautelares em liberdade.

Edmar Santos disse ainda que ouviu de Pastor Everaldo que a preocupação era tanta que Witzel, preocupado com a possibilidade de buscas em seus endereços, chegou a dar R$ 15 mil em espécie em dinheiro vivo para o presidente do PSC guardar com ele. Segundo Edmar, esse dinheiro era de Witzel, e ficava guardado com ele no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador.

“O Pastor me chamou lá, em função de estar muito preocupado com a prisão de Gabriell Neves, e dos riscos que a eventual delação do Gabriell Neves poderia ter pra mim e pro conjunto do grupo. Ele queria saber sobre isso, então a conversa foi basicamente sobre isso. Ele então me reporta que a preocupação era tão grande, que na véspera o governador tinha chamado ele no palácio Laranjeiras”, diz Edmar.

“E o governador deu a ele R$ 15 mil em espécie, que até então eram de posse do governador, pra que o Pastor Everaldo guardasse com ele. E ele mostra as cédulas, tira da bolsa e me mostra, pra dizer que era verídica a narrativa dele. Nesse mesmo dia, ele se manifesta na necessidade de alinhar o discurso sobre os fatos, que houvesse uma combinação de depoimentos, dele, meu, do Victor…”, acrescenta.

O processo de impeachment de Wilson Witzel está suspenso desde dezembro, aguardando que o STJ retirasse o sigilo da delação de Edmar Santos, o que só aconteceu agora. Com isso, o Tribunal Especial Misto, onde tramita o processo de impeachment, poderá marcar o interrogatório do governador afastado.

O que dizem os citados

Em nota, a defesa de Pastor Everaldo disse que “ele jamais fez parte de qualquer grupo criminoso, é alvo de delação covarde e mentirosa e está preso desnecessariamente, uma vez que sempre esteve à disposição da Justiça”.

A produção da GloboNews entrou em contato com a defesa de Wilson Witzel, e aguarda retorno. A GloboNews ainda tenta contato com as defesas dos demais citados.

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