Das cinzas de uma candidatura à fênix?
Por Douglas da Mata
Até que se prove o contrário, a pré candidatura do Presidente da ALERJ para o Governo do Estado do Rio de Janeiro tem tantas chances de voo quanto de uma galinha.
O dogma político diz, política é nuvem.
Mas há nuvens e nuvens.
Quando avistamos uma Cumulonimbus, não tem jeito, é tempestade na certa.
A dose de certeza sobre o iminente fracasso da pretensão do Presidente da ALERJ em comandar o executivo estadual aumentou muito, e isso está nas entrelinhas do que ele diz, nos veículos de comunicação, ou pior, muito mais no que não é dito por ele e pelos analistas.
Ora, o deputado está em campanha desde muito tempo, e não seria errado supor que a campanha à prefeitura de Campos dos Goytacazes, de 2024, tenha sido uma plataforma de exposição da sua pré candidatura, e isso se confirma no acervo do material de propaganda, caso alguém tenha se dado ao trabalho de arquivar.
Talvez essa pré candidatura tenha se desenhado antes, quando o Presidente se elegeu para comandar o parlamento fluminense, ocasião que, dizem as línguas intra palacianas, teria acabado, de fato, o governo Cláudio Castro, tamanhos foram o esforço e energia empreendidos para cumprimento daquela missão.
Não se sabe ao certo.
Sabemos que tanto esforço, tempo e exposição não conferiram ao Presidente da ALERJ uma posição confortável na disputa.
É a história, estúpido!
Ela (a história) nos conta que só Sérgio Cabral conseguiu migrar de um poder para o outro, mas mesmo assim, essa transferência teve um mandato de senador no meio, ou seja, ninguém, depois da redemocratização, conseguiu sair da presidência da ALERJ e virar governador.
Cabral ainda se elegeu a bordo do apoio (que depois traiu) de um governo estadual popular e bem avaliado, o de Rosinha (Anthony) Garotinho, eles mesmos legatários de outra façanha:
Na era pós-fusão Guanabara e Estado do Rio, nenhuma cidade do interior elegeu governador, salvo Campos dos Goytacazes, que elegeu não só um, mas um casal de governadores.
É essa memória (recall, para os especialistas) que dá ao filho do casal, e atual prefeito da cidade campista um capital político de resiliência do eleitor que, ao mesmo tempo, lembra do nome Garotinho, mas identifica no prefeito uma atualização/modernização melhorada da marca.
O Prefeito Wladimir Garotinho fez a mágica de ficar com a lembrança e afastar a rejeição.
Um dos obstáculos ao Presidente da ALERJ repousa aí, e os resultados das eleições municipais na planície goytacá provam isso.
Até para reivindicar uma vaga de vice na chapa desse ou daquele candidato, seja Paes ou o candidato dos Bolsonaro, o Presidente da ALERJ vai ter que superar um argumento crucial:
Sua pouca densidade eleitoral em casa e na região.
Neste pleito, os principais nomes colocados, desde Paes, passando por Washington Reis, Pampolha, ou algum nome do PT, todos necessitam de inserção no interior, atributo que escapa ao Presidente.
Isso reduz as chances, por exemplo, do prefeito de Niterói, de São Gonçalo, Maricá ou Baixada, que, de um jeito ou de outro, são “quase capital”, e já repercutem, para o bem ou para o mal, os humores da política carioca.
As análises feitas recentemente parecem muito mais com uma tentativa de reposicionamento do Presidente para, ao mesmo tempo, reduzir os danos de uma retirada que pareça menos uma derrota, e aproveitar ao máximo o preço simbólico de sua saída, recolocando o Presidente em uma posição relevante, na correspondência da cadeira que hoje ocupa.
TCE?
Deputado federal?
Reeleição para deputado estadual?
Senado?
Tudo vai depender da expectativa que o Presidente tem em relação a si, sua carreira, e, de forma mais aguda, como vai encarar seus adversários, e neste caso, seu principal rival, o Prefeito de Campos dos Goytacazes.
Se vai repetir a honrada e respeitosa trajetória de seu pai, que é a referência política declarada dele e dos irmãos, ele pode acabar como o eterno antagonista coadjuvante da família Garotinho, que teve no casal de governadores, até aqui, o ápice de sucesso, enquanto o patriarca da família do Presidente ficou “apenas” na presidência da Câmara local.
Caso contrário, se entender que seu caminho, necessariamente, pode ser paralelo ou até associado ao atual prefeito campista, seu caminho pode ser até mais longínquo e bem sucedido.
Explico:
Se as “fofocas” plantadas pelo Prefeito de Maricá têm alguma verdade embutida, e sempre têm, pode ser que a corrida eleitoral fluminense fique quase sem concorrentes.
É certo que os Bolsonaro vão apostar tudo na chapa ao senado.
Aliás, um dos poucos consensos até aqui.
Devem lançar um “poste” para governador, um franco atirador que desgaste os rivais ou rival, marque o campo da direita,vocalizando extremos políticos.
No campo de Paes, a história é outra.
Lula tem que construir um palanque viável e forte, não só que eleja o governador, mas que permita diminuir sua rejeição no Estado, tanto quanto em SP e MG.
Esse grande campo de centro vai incorporar todas as forças possíveis e viáveis, reeditando no Estado do Rio algo parecido com o acordo com o centrão no Congresso e no governo.
Aliás, esse é o eixo da campanha petista, e todos sabem, a maneira preferida do Presidente Lula operar política.
Com esse viés, diminuem as chances do Presidente da ALERJ e de seu padrinho governador de embarcarem nessa canoa.
Principalmente, porque Castro é outro fator adicional de rejeição para quem ele apoiar.
Governo em fim de feira, pouca capacidade de investimento, orçamento comprometido, e o desgaste natural do fim de mandatos.
Mesmo que houvesse um acordo informal que incluísse o governador e o Presidente da ALERJ nesse “centrão fluminense”, as fichas dos dois no jogo estariam desvalorizadas.
No entanto, esse movimento é bem remoto, já que os compromissos de ambos com o clã Bolsonaro impõem serem os últimos a abandonar o barco dessa aliança da direita no Estado.
Seria muita arrogância prever o futuro ou ensinar a missa ao vigário, porém, na condição de eleitor-observador eu diria que ou o Presidente da ALERJ se reinventa ou vai ganhar um bilhete premiado de aposentadoria no TCE.
