Covid-19 e falta de testagem em massa preocupam petroleiros
Paulo Cezar trabalha numa plataforma petrolífera e se diz preocupado com o aumento de casos de Covid-19 a bordo. E não é para menos. As condições de confinamento em alto-mar exigem mais cuidado e atenção. Mas, em sua opinião, os novos protocolos de segurança adotados pela Petrobrás estão mais frágeis nesta nova etapa da pandemia.
É fato: o novo coronavírus preocupa os trabalhadores do setor de petróleo, um dos principais impulsionadores da economia brasileira e regional. Embora faltem dados precisos sobre o número de casos da doença nas plataformas e navios, é nítido que eles estão aumentando. E as histórias de contágio surgem a todo momento.
No dia 14 de outubro, o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) recebeu relatos de casos na plataforma P-67, na Bacia de Santos. Petroleiros a bordo apresentaram sintomas gripais, como tosse seca. De acordo com relatos da categoria, somente no início desse mês foram confirmados 20 casos da doença na unidade.
Diretor do Sindipetro-NF, José Maria Rangel considera fundamental que a companhia petrolífera faça uma testagem em massa dos trabalhadores e trabalhadoras antes e durante o embarque e no momento de retorno da escala de trabalho offshore. Segundo ele, isso não vem acontecendo.
– Desde o início do processo, o sindicato se colocou à disposição da empresa para que, juntos, encontrássemos saídas que mitigassem os efeitos da contaminação dos trabalhadores offshore. Mas a empresa, lamentavelmente, faz ouvido de mercador e não escuta as sugestões – critica o diretor, observando que a entidade sindical distribui máscaras e faz a testagem de trabalhadores, uma obrigação que seria da Petrobrás.
Logística deficiente, lucro recorde
Os relatos de quem enfrenta a Covid-19 indicam sofrimento físico e psicológico. Segundo um estudo de caso promovido pela Universidade de Brasília (UnB) com dez trabalhadores das indústrias química e de petróleo, seis deles relataram contágio laboral; ou seja, no ambiente de trabalho. Três relataram demora das empresas em afastá-los dos locais de trabalho, o que provocou novos contágios.
Zé Maria cita a deficiência na logística como um fator agravante, principalmente pelos cortes que a Petrobrás fez no setor de transporte. “Hoje não se tem o desembarque das pessoas contaminadas porque não há tripulação, nem aeronave suficiente. Isso é inadmissível para uma empresa que este ano vai lucrar mais de R$ 100 bilhões”.
O diretor do Sindipetro-NF também responsabiliza o atual governo federal por ter desmobilizado os principais órgãos de fiscalização e controle na área de segurança e saúde que estavam atrelados ao Ministério do Trabalho e Emprego. Sem fiscalização e sem testagem em massa, restam ao Paulo Cezar e a milhares de petroleiros rezar para que superem com saúde os dias de trabalho em confinamento.