Computador de ‘Faraó dos Bitcoins’ apreendido pela PF guarda R$400 milhões em criptomoedas
Apreendido na Operação Kryptos, em agosto de 2021, um notebook permanece guardado até hoje na Superintendência da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro. Dentro dele, hiberna intacta uma Dash Core, carteira de criptomoedas denominadas “dash”, avaliada pelos técnicos da PF em R$ 400 milhões. A senha está em poder de Glaidson Acácio dos Santos, o “Faraó dos Bitcoins”, que se recusa a fornecê-la aos policiais, mesmo mediante a possibilidade de acordo de redução de pena.
— É a minha aposentadoria, doutor — alegou para uma autoridade que tentou negociar o fornecimento da chave de acesso à carteira.
A carteira vale mais do que o dobro dos 591 bitcoins apreendidos na casa de Glaidson, quando ele foi preso na Kryptos. Estas moedas, encontradas em duas carteiras, foram estimadas à época em R$ 147 milhões. A PF teme que, uma vez solto, Glaidson consiga fazer um backup da Dash Core e, com a senha, saque as criptomoedas e desapareça com elas.
Dash é um dos 10 mil tipos de criptomoedas em circulação. Inicialmente, foi lançada para dificultar a rastreabilidade em negócios obscuros, razão pela qual era mais frequente no ambiente da dark web. Porém, ganhou mais transparência e confiabilidade após sofrer uma recente reformulação. Parada, como ocorre com a carteira de Glaidson, rende 6% ao ano.
A Dash Core, baixada em computadores pessoais, dispensa a necessidade de custodiar as criptomoedas em corretoras especializadas. O próprio dono guarda os valores em software criptografado por senha. Geralmente, a carteira, quando criada, gera um backup. Se o computador sofre danos ou extravio, o proprietário pode recuperar o saldo e sacar. Porém, se ele tiver perdido o backup e não conseguir acessar a carteira original, as dashs ficam retidas para sempre.
Os bens e valores apreendidos pela Kryptos — sem incluir as dashs — foram estimados em R$ 400 milhões. Há quase dois anos, encontram-se sob custódia da 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, onde tramita a ação judicial por crime contra o sistema financeiro nacional que tem como réus Glaidson, a mulher do “Faraó”, Mirelis Zerpa, e outras 15 pessoas.
A titular da 3ª Vara, juíza Rosália Figueira, já manifestou a interlocutores a pretensão de decretar o perdimento de bens e valores, por entender que tiveram origem ilícita. Porém, em ofício remetido à juíza no dia 22, outra magistrada, Elizabete Longobardi, da 5ª Vara Empresarial da Justiça estadual — onde corre uma ação falimentar contra a empresa de Glaidson, a GAS Consultoria Bitcoin — requereu a transferência dos bens, para que possam ser liquidados e utilizados no ressarcimento de cerca de 80 mil clientes lesados.
O Escritório Zveiter, gestor da massa falida da GAS, trabalha para evitar que bitcoins e outros tipos de criptomoedas, em poder da organização liderada por Glaidson, sejam vendidos à revelia da Justiça. Em 25 de agosto de 2021, logo após a prisão do “Faraó”, Mirelis Zerpa, que se encontra foragida, conseguiu sacar remotamente cerca de R$ 1 bilhão em criptomoedas.
— Já contamos com um aceno no mercado de que esses bitcoins são de origem fraudulenta. Quem comprar, não pode alegar desconhecimento de que aquilo ali era de origem fraudulenta — alertou o advogado Bruno Rezende, da massa falida.
Fonte: Extra