A mídia, o cachimbo e a boca torta - Tribuna NF

A mídia, o cachimbo e a boca torta

POR DOUGLAS BARRETO DA MATA

A cobertura “futebolística” da mídia empresarial sobre as sabatinas na CCJ do Senado dos indicados aos cargos de PGR e para ocupar vaga no STF beirou ao ridículo.

Quer dizer, foi ridícula mesmo…

Antes de tudo e mais nada:

O chamado “placar” da votação no plenário do Senado diz muito mais daquela casa parlamentar do que do Ministro da Justiça, senador, ex governador, ex juiz federal, e etc, etc, etc…

A desinformação dos meios empresariais de mídia se assemelha ao que eles dizem combater, a indústria dos boatos na internet, as “fake news”…

Aliás, quem olhar bem de perto vai perceber que fake news e noticiários das grandes redes se retroalimentam…

Na verdade, o único problema das grandes, médias e pequenas empresas de mídia com as fake news e as redes sociais é que as primeiras perderam o monopólio da mentira e da desinformação…só isso…

A edição foi calculada para mostrar as tentativas (infrutíferas) de constrangimento ao ministro da justiça…

Como ele se saiu muito bem, dada a pouca ou nenhuma capacidade intelectual dos seus opositores, restou o “placar”, o segundo pior, diz a mídia…

Volto ao começo: se recebesse os votos em números parecidos aos consagrados ao PGR, aí sim, eu estaria preocupado…

Não que eu espere grande coisa de Flávio Dino, até porque, salvo os embates das redes sociais, sua gestão foi parecidíssima com todas as demais que o antecederam, ou seja, foi a mesma porcaria…

A mídia parece desconhecer, ou em alguns casos, desconhece mesmo, que o STF, ou qualquer outra Corte Constitucional com o modelo dos EUA (é o nosso caso, com algumas adaptações) é uma instância essencialmente política, dada a natureza do controle de constitucionalidade…

Vou um pouco além, não existe, de fato, nenhuma decisão judicante (do Poder Judiciário) que seja isenta das crenças que o magistrado acumular ao longo dos anos de sua vida…

Não, não senhores e senhoras, não existe Poder Judiciário “neutro”…

Muito menos no STF…

Ora, se Judiciário e o MP fossem “neutros” e/ou ao menos tendessem a um equilíbrio, em questões penais, por exemplo, as cadeias não estariam cheias de pretos e pobres, quase que exclusivamente…

Se Judiciário e o MP fossem “neutros” e/ou tendessem ao equilíbrio, a prestação jurisdicional não seria tão hierarquizada, a ponto de terem criado um juizado menor, os Juizados Especiais, onde as demandas “baratas” (abaixo de 20 SM ou 40SM) fossem tratadas…

Experimente acionar na Justiça uma empresa em valores maiores que esse limite…

Uns 10 anos, na média, de espera…

Tente bancar o custo de recursos ao TJ ou ao STJ, ou enfim, ao STF, se a ação assim necessitar…

Pois é…

Então, é preciso que se diga que no STF se discute politicamente o conteúdo da Constituição Federal, e suas mudanças e reinterpretações, que serão adequadas e moldadas a enunciados jurídicos…

É isso…nada mais…

Não há nada de técnico ou jurídico, em senso restrito, em definir se as áreas de povos originários serão entregues ou não à grilagem, como se pretendia com o marco temporal…

Muito menos em decidir, na questão do aborto, quem é que manda nos corpos das mulheres, se elas mesmas, ou todos, menos elas…

E por aí vamos…

Alerj

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