16/06/2024
Destaque

São Francisco de Itabapoana é o 2º município no Brasil com maior potencial de produção de energia eólica

Município é referência no Mapa do Potencial de Geração de Energia Renovável lançado este ano

Fazendas eólicas no mar, campos de placas solares e plataformas marítimas de hidrogênio. O que pode parecer um vislumbre do futuro — e que já é realidade em muitos países — começa a se tornar mais palpável no Rio, com projetos em andamento ou em gestação. Os planos do governo fluminense são tornar o estado uma referência nacional na transição energética para uma matriz mais limpa. No Mapa do Potencial de Geração de Energia Renovável lançado este ano, só no litoral entre Arraial do Cabo e São Francisco de Itabapoana foram apontados nove parques eólicos offshore (no mar) em processo de licenciamento no Ibama. E se hoje mais de 40% do PIB do Rio está relacionado a petróleo e gás, com os royalties correspondendo a 27,9% da arrecadação do Tesouro estadual de janeiro a setembro deste ano, os novos rumos traçados, além de estarem em consonância com premissas ambientais mundiais, podem diversificar a economia e gerar emprego e renda.

Calcular o impacto dos projetos nos cofres públicos, dizem especialistas, ainda é prematuro. Mas não faltam dados que indiquem a possibilidade de correntes favoráveis. Presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEeólica), Elbia Gannoum lembra que, a cada R$ 1 investido nesses empreendimentos movidos a vento, o retorno no PIB é de R$ 3. Além disso, a cada 1 MW instalado, são criados 15 postos de trabalho.

— A eólica onshore (em terra) já é a segunda fonte de geração de energia no Brasil. O país está iniciando os projetos offshore, com um futuro bastante promissor para o Rio. A reboque das eólicas no mar, outra fonte de energia de baixo carbono tem grande potencial no estado: o hidrogênio verde (a partir de fontes renováveis) — diz ela.

Infraestrutura pronta

Em terra, a produção eólica atualmente é desenvolvida, sobretudo, no Nordeste. Estudos citados pela ABEeólica indicam que, nos municípios onde esses parques estão instalados, o PIB real aumentou 21,15% em cerca de duas décadas e, de 2011 a 2020, a construção deles criou quase 196 mil postos de trabalho. No Rio, a única planta fica em Gargaú, em São Francisco de Itabapoana, no Norte Fluminense, onde são produzidos 28,1 MW (0,28% da energia gerada no estado).

Mas, com a perspectiva de instalação de aerogeradores no mar (que se sobressaem em países como o Reino Unido, líder em parques marítimos instalados), essa capacidade poderia se multiplicar por muitas vezes, justo numa área onde atualmente reina a indústria do petróleo. Os nove projetos para o Rio, indica a Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais, teriam 27,5 GW de potência instalada e poderiam atrair investimentos de R$ 85 bilhões nos próximos dez anos (16,2% do estimado nacionalmente). E de Macaé a Campos, de Niterói a Maricá, o suporte já instalado para a indústria de óleo e gás pode ser a vantagem do Rio na consolidação desse futuro.

— Este é um dos maiores diferenciais. Será utilizada a infraestrutura portuária e de logística, além da mão de obra super especializada fluminense, com know how de mais de 40 anos da indústria —afirma o secretário estadual de Desenvolvimento, Cássio Coelho, ao ressaltar planos de capacitar essa força de trabalho para as energias renováveis.

Presidente no Brasil da Equinor, empresa responsável por Aracatu, um dos parques eólicos offshore em fase conceitual no Rio, Veronica Coelho concorda, ao dizer por que o litoral fluminense foi eleito para o possível investimento:

— A escolha do Rio se deve à localização próxima ao maior centro de carga consumidora do país, além de condições favoráveis para a logística por terra e portuária, assim como uma cadeia de suprimentos já desenvolvida para as operações offshore de óleo e gás. A proximidade com os campos de O&G, inclusive, nos faz vislumbrar, em longo prazo, a possibilidade de fornecimento de energia para essas estruturas.

Já a Firjan-RJ enxerga nesses projetos a chance de aquecer outros setores, como a construção naval, uma vez que a instalação das fazendas marinhas demandaria, por exemplo, navios guindastes, embarcações para transporte de torres e pás, assim como para a manutenção das usinas.

‘Capital da energia’

Mas a federação ressalta que não são só os ventos que podem trazer mudanças. Recentemente, a Firjan identificou 38 projetos de produção de energia em apenas quatro cidades do Norte Fluminense, com capacidade de gerar o equivalente a mais de três hidrelétricas de Itaipu. Além das eólicas, são termelétricas (algumas delas, no entanto, com modelos questionados por ambientalistas), e usinas solares e de hidrogênio.

Assim como aponta o mapa de potenciais da Secretaria de Desenvolvimento do estado, Savio Bueno Guimarães Souza, especialista em petróleo, gás e naval da Firjan, lembra que o Rio é o segundo maior produtor do Brasil de biogás (gerado a partir do esgoto e do lixo e que, de 2015 a 2022, injetou R$ 731 milhões em ICMS no estado). É ainda o quinto com mais sistemas solares instalados — são 62.198 casas, 1.325 propriedades rurais, 4.605 pontos comerciais, 314 indústrias e 123 sistemas públicos, com as melhores incidências de insolação no Norte e Noroeste Fluminense.

Souza destaca ainda o caso do hidrogênio verde. O primeiro projeto, diz, é trabalhado por Shell e Porto do Açu, com previsão para 2025. Há também outros dois empreendimentos que deram os primeiros passos. Quanto à geração solar fotovoltaica, ele recorda que uma planta é desenvolvida por Porto do Açu e Equinor.

— O petróleo e o gás continuarão importantes para o mundo e ainda mais para o Rio. Porém, temos outros potenciais energéticos a serem devidamente explorados e desenvolvidos. E que, certamente, farão do Rio não apenas a capital do petróleo no país, mas, sim, a capital da energia — ressalta.

Para o especialista, há desafios, a começar pela disponibilidade de mão de obra capacitada. As eólicas offshore, por exemplo, dependem da definição de um marco regulatório e de leilões federais. Para se preparar, o secretário Cássio Coelho diz que o estado faz seu dever de casa.

—Trabalhamos para consolidar um ambiente de negócios positivo, com ajustes na regulação, criação de incentivos e projetos de melhoria de infraestrutura para atrair projetos — diz ele.

Rio terá PPP para gerar energia

A prefeitura prepara o lançamento, ainda este mês, do Solário Carioca, uma parceria- público-privada para construir, instalar e implantar sua primeira estação de geração e captação de energia solar. O plano prevê painéis de captação em um terreno de um aterro sanitário desativado da Comlurb em Santa Cruz, na Zona Oeste.

O presidente da Companhia Carioca de Investimentos e Participações (Ccpar), Gustavo Guerrante, explica que a iniciativa faz parte do compromisso que a cidade assumiu com o C-40 (entidade que reúne 96 metrópoles de todo o mundo) de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 20% até 2030, tendo o ano de 2017 como referência.

Além disso, na prática, a medida, mesmo que simbolicamente, vai ajudar o município a reduzir a conta de energia. Para isso, a prefeitura pretende se valer dos incentivos da Lei Federal 14.300/22, de janeiro deste ano, que estabeleceu o marco legal da micro e minigeração de energia.

A lei permite que investidores do setor público e privado que produzam até 75 KW/h por fontes renováveis (como solar, eólica e biomassa) possam interligar as usinas produtoras à rede de distribuição (o caso do Rio) que cadastrarem projetos este ano.

A partir da entrada em operação, que deve ocorrer em 2023, haveria um acerto de contas com a concessionária. O abatimento na conta valeria até 2045.

— A proposta é fazer uma concessão por 30 anos. Os painéis seriam instalados e mantidos pela vencedora. A empresa que desse o maior desconto em cima do valor que pagaríamos pelo abastecimento tradicional ganharia o contrato— explicou Gustavo Guerrante.

Os custos para implantação do sistema ainda estão em fase de levantamento. A estimativa é que a usina tenha capacidade para gerar 5 MW/hora. Isso seria suficiente para abastecer 15 Unidades de Pronto Atendimento (Upas) ou 45 escolas da rede municipal.

Guerrante disse que outras áreas serão estudadas para fazer parte do Solário:

— Um desses pontos é outro aterro desativado no Catiri (Bangu); e áreas do Riocentro e da Cidade das Crianças (Santa Cruz) — disse.

O governo do estado também estuda uma PPP para abastecer escolas públicas com energia solar, de modo a reduzir a conta de luz.

Fonte: O Globo

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