PF suspeita que operação contra máfia de cigarros vazou para filho de Sérgio Cabral
Filho do ex-governador Sérgio Cabral e um dos alvos da Operação Smoke Free, José Eduardo Cabral deixou sua casa minutos antes da chegada da Polícia Federal.
A PF investiga se José Eduardo foi avisado ou se, de alguma forma, desconfiou da ação para prendê-lo. Após sair do seu apartamento, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na manhã de quinta-feira (23), José Eduardo telefonou para o policial federal Allan Inácio de Assis.
De acordo com as investigações, Allan é dono da Carioca Vigilância, empresa que dá proteção à Adilson Coutinho, o Adilsinho, e seu irmão, Cláudio, apontados como chefes da quadrilha que explora o comércio irregular de cigarros em diferentes pontos do Rio de Janeiro.
O agente Allan foi chamado na Polícia Federal para participar da operação contra a máfia do cigarro. Antes dos agentes saírem às ruas, Allan foi preso no interior da Superintendência da PF, no Centro do Rio. Por volta das 5h20, o seu telefone celular tocou. Era José Eduardo Cabral.
Para a Polícia Federal, o telefonema indicava o vazamento da operação.
Uma equipe da PF foi enviada à casa de José Eduardo e ao chegar ao local descobriu que às 5h30, o filho do ex-governador havia deixado o local. A câmera de segurança flagrou o empresário entrando no carro três minutos antes, às 5h27.
O carro em que José Eduardo Cabral estava foi abandonado na Praça do Ó, na Barra. A PF apura se o rapaz esteve em Búzios, na Região dos Lagos, naquele mesmo dia 23.
No dia seguinte, ele se apresentou na a Superintendência da Polícia Federal (PF), na Praça Mauá, e foi preso.
A Justiça Federal analisa pedido de habeas corpus feito pela defesa dele. O Ministério Público deu um parecer contrário ao pedido.
Foragidos nas Maldivas
A Justiça Federal expediu 27 mandados de prisão na operação contra a máfia de cigarros. Cinco integrantes da quadrilha são procurados pela PF:
- Adilson Coutinho, o Adilsinho – apontado como chefe da quadrilha;
- Cláudio Coutinho – irmão de Adilsinho e um dos chefes do grupo;
- Anyelle Falcão Coutinho – mulher de Cláudio Coutinho e investigada por integrar a organização criminosa e atuar na lavagem de dinheiro;
- José Gomes da Rocha Neto, o Kiko – segundo a PF, Kiko participou de extorsões e ameaças a comerciantes para que o cigarro fosse vendido, além de receber e transportar dinheiro obtido pela quadrilha;
- André Aquino de Lima, o Andrezinho – braço direito de Kiko, atuou, segundo a PF, no transporte de dinheiro obtido pelo grupo com a venda de cigarros.
A polícia já tem informações de que Adilsinho está em Miami, nos Estados Unidos. Autoridades americanas ajudam nas buscas para tentar prendê-lo.
Já o irmão de Adilsinho, Cláudio Coutinho e a mulher, Anyelle, embarcaram para as Ilhas Maldivas, no dia 18 de novembro. A volta ao Brasil estava marcada para o dia 27, quatro dias depois da operação Smoke Free.
Mesmo assim, os seus advogados pediram a revogação do mandado de prisão alegando que o casal tem filhos menores de idade. O MPF opinou contra já que o casal não deixou de viajar para o exterior sem as crianças.
O casal não retornou ao Brasil. Na quinta-feira (30), o MPF foi contra a revogação do mandado de prisão de Cláudio e Anyelle. O parecer dos procuradores está sendo analisado pela Justiça Federal.
Cláudio foi preso em julho passado, mas foi solto. Agora é procurado novamente pela polícia.
R$ 2 bi de prejuízo
A PF afirma que o grupo criminoso investigado é responsável por causar prejuízos à União de cerca de R$ 2 bilhões.
A força-tarefa conta com o apoio da US Homeland Security Investigations, a Agência de Investigações de Segurança Interna dos Estados Unidos.
A 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro expediu também 50 mandados de busca e apreensão e determinou bloqueio, sequestro e apreensão de bens no valor de R$ 300 milhões. Dentre os bens, estão imóveis, veículos de luxo, criptomoedas, dinheiro em espécie e depósitos em contas bancárias.
Três anos de operações ilegais
De acordo com a investigação, iniciada em 2020, desde 2019 “o grupo criminoso reiteradamente, com falsificação ou não emissão de notas fiscais, depositava, transportava e comercializava cigarros oriundos de crime em territórios dominados por outras organizações criminosas, como facções e milícias.”
“Em consequência, efetuava a lavagem dos recursos obtidos ilicitamente e remetia altas cifras ao exterior de forma irregular”, afirma a PF. Ainda segundo os investigadores, a quadrilha contava com “uma célula de serviço paralelo de segurança”, coordenada por um policial federal e integrada por policiais militares e bombeiros.
“O grupo econômico que suporta a organização criminosa investigada é devedor contumaz da União e possui débito tributário de aproximadamente R$ 2 bilhões, segundo informado pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional”, destaca a PF.
Os investigados podem responder pela prática de crimes de sonegação fiscal, duplicata simulada, receptação qualificada, corrupção ativa e passiva, lavagem de capital e evasão de divisas. E se condenados, podem pegar 66 anos de reclusão.
G1*