Palácio Tiradentes retoma visitas guiadas que ficaram suspensas por três anos devido à pandemia de Covid-19
Palco da memória de parte da História do Brasil, o Palácio Tiradentes, na Praça Quinze, voltou a receber visitas esta semana após três anos sem passeios guiados devido à pandemia de Covid-19. Nesta nova fase, uma novidade: o público poderá circular pelo plenário, se sentar nas cadeiras dos deputados e até discursar no púlpito no salão onde muitas leis foram aprovadas e acordos políticos fechados. Com a transferência das sessões ordinárias da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para um novo prédio, no Castelo, o imóvel quase centenário foi transformado numa sede histórica do parlamento.
Passeio grátis
A entrada é franca, e há opções de visitas com guias fluentes em inglês e espanhol. As histórias são contadas por estudantes universitários contratados pela Diretoria de Cultura da Alerj. Parte das conversas ocorre no plenário, com o público acomodado nas mesmas poltronas que os parlamentares hoje só ocupam em sessões especiais e solenes. Antes, nas visitas guiadas, o público observava esse espaço só das galerias.
— A oportunidade de conhecer o prédio foi excelente. Só me lembrava de cenas do filme “Tropa de Elite” gravadas aqui — disse a dona de casa Rosana Silveira de Oliveira, de 43 anos, que visitou o prédio a com o marido e os dois filhos.
E o que não faltam são fatos. Apesar de o atual prédio ter sido inaugurado em 1926, esse terreno reúne 383 anos de história, desde o Brasil Colônia, quando o Rio era capital da República. Em 1640, foi inaugurado naquela área um prédio público que abrigava a Cadeia Velha. O detento mais conhecido foi justamente o alferes José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes. Um dos líderes da Inconfidência Mineira passou seus últimos dias naquela prisão, antes de ser enforcado em 21 de abril de 1792. A localização exata da cadeia se perdeu ao longo do tempo, mas os organizadores do passeio acreditam que ficava sob a sala de imprensa Tim Lopes, à direita da entrada principal do plenário.
Antes de ser derrubado, o antigo imóvel também foi sede da Câmara de Deputados durante parte da República Velha. Aberto em 1926, o prédio atual abrigou ainda a Câmara Federal antes de a capital do país ser transferida do Rio para Brasília, em 1960.
— Aprendi muita coisa. Não sabia que nos anos 1940, durante a ditadura de Vargas, o prédio foi sede do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) para divulgar o governo. Deve ter sido uma versão do “Gabinete do Ódio” do século passado — brincou Rosana.
A família da dona de casa, que se mudou em janeiro de Petrópolis para o Rio, aproveitou o feriado para conhecer a antiga sede da Alerj e seu entorno. Empolgado, João Paulo, de 13 anos, um dos filhos de Rosane, chegou a se sentar na cadeira reservada ao presidente da Casa e fingiu comandar uma sessão:
— Gostei muito dos quadros, das pinturas que há no prédio. No Salão Nobre, fiquei surpreso com um quadro que mostrava quase todas as personalidades do Império. Mas a Imperatriz Leopoldina (primeira mulher de Pedro I) não estava retratada. Assim como eu, o guia desconfia que ela não está na obra porque a sociedade era mais machista na época — comentou João Paulo.
Em busca do visitante
A visita ao Palácio Tiradentes não era o programa original da professora Lucilene Santos, de 63 anos. Com o filho e a neta, ela tinha se planejado para ir ao Museu do Amanhã, na Praça Mauá. Quando a família seguia a pé para a instituição, foi abordada por funcionários da Alerj que faziam o convite.
— Sou professora da rede estadual. Já tinha visitado o prédio duas vezes com alunos. Agora, aproveitei muito mais. O prédio é lindo, e o passeio foi mais completo. Nas ocasiões anteriores, não tivemos acesso ao Salão Nobre — contou Lucilene.
A diretora do Departamento de Cultura da Alerj, Fernanda Figueiredo, explicou que, antes de reabrir o prédio à visitação, foram realizadas algumas reformas. As principais intervenções ocorreram no Salão Nobre, que recebeu cortinas novas e teve o mobiliário e quatro esculturas — Justiça, Travalho, Paz e Lei — restaurados.
— Começamos a semana com cem visitas por dia. A gente considera esse espaço uma referência para a História do país — diz Fernanda.
A diretora tem planos ainda de realizar roteiros temáticos em algumas épocas do ano:
— Estamos fechando a agenda. Mas, no primeiro evento, teremos uma pessoa vestida como Tiradentes para circular pelo prédio.
As visitas guiadas ao prédio, que duram em média 40 minutos, podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h. Os grupos partem da entrada principal da Alerj a cada 15 minutos. O interessado pode marcar horário pelo e-mail cultura@alerj.rj.gov.br ou ir direto ao ponto de encontro.
Fonte: O Globo
