Operação mira quadrilha que furta petróleo; bicheiro é o ‘cérebro’ da organização, diz polícia
A Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) deflagrou, na manhã desta quarta-feira, a Operação Ouro Negro, que mira integrantes de uma organização criminosa chefiada pelo Vinícius Drumond. O grupo é especializado em furto de petróleo e derivados de dutos subterrâneos e tem forte ligação com o jogo do bicho, que financia diretamente suas operações criminosas. Agentes estão nas ruas para cumprir de mandados de busca e apreensão.
De acordo com a Polícia Civil, a ação desta quarta atinge não apenas o esquema de furto de combustíveis, mas também as bases financeiras da contravenção carioca.
As investigações apontam Vinícius Drumond, filho do contraventor Luizinho Drumond — com um histórico marcado por envolvimento no jogo do bicho, em agiotagem, em lavagem de dinheiro e em corrupção — figura como “cérebro” da quadrilha. Herdeiro de uma das mais antigas redes de contravenção do Rio de Janeiro, Vinícius, de acordo com a polícia, ascendeu rapidamente no mundo do crime organizado, expandindo seus negócios ilícitos para além do jogo do bicho.
O delegado Pedro Brasil, da DDSD, explica que se trata de uma organização criminosa muito bem estruturada, com nítida divisão de tarefas.
— Os investigados desse nosso inquérito já são velhos conhecidos da nossa delegacia, já praticam esse crime há muito tempo. Então eles têm uma divisão de tarefas como escavação, perfuração, extração, transporte do petróleo e receptação. O que causou espécie nessa investigação foi que nós conseguimos chegar no financiador. E, para nossa surpresa, é o Vinícius Drummond que é envolvido com a contravenção. Isso é a primeira vez que a gente se depara com isso, com um contraventor envolvido nesse tipo de crime — afirmou, em entrevista do “Bom dia Rio”.
Segundo o delegado, o petróleo furtado é utilizado como matéria-prima para produção de asfalto, borracha, plástico.
— Esse crime não é apenas patrimonial. Não é um crime que causa apenas prejuízos à Transpetro. É um crime também que gera um grande risco ambiental, podendo causar catástrofes. Desabastecimento de água em cidades, além de riscos às pessoas, podendo causar explosões, incêndios.
O delegado Pedro Brasil afirma que a investigação ainda não chegou ao destino do petróleo furtado:
— Ainda não chegamos à receptação. Mas, com base em outras investigações nossas, a gente identificou usinas de asfalto em outros estados. Essa quadrilha age no Brasil inteiro. Essa investigação se iniciou a partir de uma prisão em flagrante que ocorreu na Bahia. Que ocorreu com a nossa participação. Então, com base nos dados que nós extraímos dessa prisão, nós fomos fazendo uma investigação reversa e chegamos no financiador, que é o contraventor.
Discreto, mas influente nos bastidores do crime
Com um perfil discreto, mas extremamente influente nos bastidores do crime, ele é apontado pela Polícia Civil como o responsável por esquemas de corrupção e pelo financiamento de operações ilegais, incluindo o furto de combustíveis. Segundo o apurado pelos investigadores, Vinícius usa empresas de fachada e um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro, integrando o lucro obtido com o jogo do bicho e o desvio de recursos do petróleo para atividades criminosas em vários estados do Brasil.
O nome de Drumond, afirma a polícia, já esteve relacionado a investigações anteriores sobre contravenção, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Mas, como sempre fez uso de “laranjas” e de intermediários para dificultar o rastreamento de suas atividades, rastrear suas atividades criminosas era difícil. Com as investigações, a DDSD obteve provas que evidenciam sua participação direta e chefia no esquema milionário de furto de petróleo.
Além de Vinícius Drumond, a investigação revelou o envolvimento direto de Franz Dias Costa e Mauro Pereira Gabry, personagens já conhecidos das autoridades por sua longa trajetória no furto de petróleo. Os dois têm um histórico consolidado nesse tipo de crime e em outras atividades ilícitas, atuando como peças-chave na estrutura da organização criminosa. De acordo com a polícia, a família Gabry tem fortes ligações com a contravenção carioca, sendo reconhecida por sua participação em atividades ilegais relacionadas ao jogo do bicho.
As investigações apontam que Mauro Pereira Gabry exerce um papel estratégico no grupo, sendo o responsável direto pela administração das operações criminosas na região do Sul Fluminense, sob a coordenação de Vinícius Drumond. Sua atuação, afirma a polícia, envolve desde o gerenciamento logístico das ações de furto de petróleo até o controle de esquemas de lavagem de dinheiro e proteção das atividades ilícitas, consolidando sua importância no funcionamento da rede criminosa.
Do jogo do bicho ao furto de petróleo
Veja como, de acordo com as investigações, era estruturada a quadrilha chefiada por Vinícius Drumond:
- setores especializados em perfuração de dutos, transporte e armazenamento de combustíveis furtados
- rede de informantes para monitorar ações policiais e evitar operações de repressão
- empresas de fachada e “laranjas” para lavagem de dinheiro e disfarce das atividades ilícitas
O jogo do bicho representava a principal fonte de recursos para o financiamento das atividades ilegais do grupo, segundo a polícia. O dinheiro da contravenção era utilizado para:
- comprar equipamentos sofisticados de perfuração de dutos
- alugar veículos para transporte de combustíveis e movimentação de recursos
- pagar colaboradores e intermediários envolvidos na proteção do esquema criminoso
Ligação com morte de advogado
As investigações revelaram que a locadora de veículos utilizada pelo grupo criminoso chefiado por Vinícius Drumond para facilitar o furto de petróleo é a mesma envolvida no assassinato do advogado Rodrigo Crespo, ocorrido em frente à sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), no Centro do Rio de Janeiro, em fevereiro de 2024.
A execução de Crespo, afirma a polícia, teria relação com possíveis conflitos internos da contravenção. Indícios apontam o envolvimento de pessoas ligadas ao jogo do bicho no crime. O veículo usado na ação criminosa foi alugado por uma empresa de fachada supostamente vinculada à mesma organização alvo da Operação Ouro Negro.
Para a polícia, a ligação entre o furto de petróleo e o assassinato do advogado evidencia a complexidade da rede criminosa, pois mostra que o grupo não se limita a crimes financeiros, mas também está envolvido em crimes violentos, incluindo execuções ligadas à disputa de poder na contravenção.
Apreensões
Os mandados de busca e apreensão da Operação Ouro Negro são cumpridos em residências de suspeitos, empresas de fachada e depósitos clandestinos usados para armazenar combustíveis furtados e lavar dinheiro. Foram apreendidos telefones celulares, tablets, computadores, documentos contábeis e registros financeiros e outros objetos que serão úteis para a continuidade das investigações.
A ação, diz a polícia, é resultado de uma investigação que teve início após a prisão em flagrante de cinco pessoas na Bahia, em setembro de 2024, quando tentavam furtar petróleo de um duto. As evidências, de acordo com os investigadores, ligaram o grupo a Vinícius Drumond. Ele agora é investigado por organização criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro, além de outros crimes relacionados a esses.
