MPF conclui investigação sobre incineração de corpos na Usina de Cambaíba na ditadura militar - Tribuna NF

MPF conclui investigação sobre incineração de corpos na Usina de Cambaíba na ditadura militar

O Ministério Público Federal (MPF) concluiu na sexta-feira (26) o processo que investiga a incineração de corpos na Usina de Cambaíba, em Campos dos Goytacazes, durante o período da ditadura militar no país.

Segundo a procuradoria, o caso foi investigado durante oito anos e o resultado ainda está sob sigilo.

O MPF disse que o processo tem mais de 2 mil páginas, além de materiais em áudio e vídeo.

De acordo com o procurador do MPF, Guilherme Virgílio, a investigação foi especificamente sobre a incineração dos corpos e, consequentemente, desaparecimento forçado das vítimas e não sobre como elas foram mortas.

O nome de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, consta na lista do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que investigou os crimes ocorridos na época, dos corpos que podem ter sido incinerados no local em 1974.

Na manhã desta segunda-feira (29), o presidente Jair Bolsonaro disse que se o presidente da OAB quisesse saber como o pai morreu, ele, Bolsonaro, contaria. Mais tarde afirmou, que Fernando Santa Cruz foi vítima de “grupo terrorista”.

As investigações do MPF

O procurador disse que o maior desafio da investigação foi o tempo que se passou desde o desaparecimento dos corpos, cerca de 50 anos em alguns casos, até a falta de documentação sobre os fatos.

“Tudo que se diz foi que [os desaparecimentos] foram feitos para não deixar rastros”, afirmou.

Além disso, ele explicou que o único entrevistado que estava disposto a cooperar com as investigações foi o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Cláudio Guerra, que já deu uma série de declarações públicas sobre a incineração dos corpos na usina de Cambaíba.

O procurador disse que os demais prestaram depoimento por obrigação. Entre as pessoas que foram ouvidas, estão alguns herdeiros da usina, segundo o MPF.

Em março deste ano, em entrevista a família negou que o espaço tenha sido usado para este fim.

Para a herdeira, Cecília Ribeiro Gomes, essas denúncias não têm fundamento, uma vez que a usina não parava nunca, o que tornam improváveis os argumentos utilizados pelo ex-delegado.

Declarações de Cláudio Guerra

Em 2014, o ex-delegado do DOPS, Cláudio Guerra, foi até a usina de Campos com a CNV e mostrou como os corpos eram incinerados — Foto: Comissão Nacional da Verdade/ Divulgação
Em 2014, o ex-delegado do DOPS, Cláudio Guerra, foi até a usina de Campos com a CNV e mostrou como os corpos eram incinerados — Foto: Comissão Nacional da Verdade/ Divulgação

Guerra afirmou tanto no livro “Memórias de uma Guerra Suja” quanto em depoimentos que prestou à Comissão Nacional da Verdade (CNV) que pegava os corpos na Casa da Morte de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, e no quartel da Polícia do Exército da rua Barão de Mesquita e levava para a usina de Campos.

“O forno da usina era enorme, ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano”, revelou o ex-delegado em um trecho do livro Memórias de uma Guerra Suja.

Em 2014, Guerra foi até a Cambaíba e mostrou detalhes de como eram feitas as incinerações dos corpos, usando manequins, durante uma diligência da CNV.

Foi usado um manequim para Cláudio Guerra ilustrar como os corpos eram colocados nas fornalhas — Foto: Letícia Bucker/G1
Foi usado um manequim para Cláudio Guerra ilustrar como os corpos eram colocados nas fornalhas — Foto: Letícia Bucker/G1

Para a CNV, Guerra disse ainda que, além de Fernando Santa Cruz, levou até Campos dos Goytacazes os corpos de: João Batista Rita, Joaquim Pires Cerveira, David Capistrano da Costa, João Massena Melo, Eduardo Collier Filho, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Armando Teixeira Fructuoso, Thomaz Antônio da Silva Meirelles Netto, Ana Kucinski e Wilson Silva.

Os nomes constam no documento do relatório final da Comissão que pesquisou os crimes cometidos durante a ditadura militar no país.

Destruição dos fornos

Professora universitária flagrou a destruição parcial dos fornos da usina de Cambaíba, no RJ — Foto: Ana Costa/ Arquivo Pessoal
Professora universitária flagrou a destruição parcial dos fornos da usina de Cambaíba, no RJ — Foto: Ana Costa/ Arquivo Pessoal

Em março deste ano, o G1 denunciou a destruição dos fornos da usina de Cambaíba.

A situação foi flagrada pela professora da área de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Campos, Ana Costa, no ano passado.

Ela contou que sempre leva os alunos até a usina para estudar questões como a reforma agrária e disse que já tinha se surpreendido em junho de 2018, quando identificou a destruição parcial dos fornos.

“Cheguei a questionar as famílias que estavam acampando no local e elas me informaram que um grupo desconhecido foi até lá e destruiu a área”, disse a professora.

O caso também é investigado pelo MPF e ainda segue sob sigilo.

Fonte:  G1

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