Investigação da Lava-Jato mira bancos do Brasil e do Paraguai - Tribuna NF

Investigação da Lava-Jato mira bancos do Brasil e do Paraguai

SÃO PAULO — Desconhecido do grande público mas com sede em um suntuoso edifício da Avenida Brigadeiro Faria Lima, coração financeiro de São Paulo, o Banco Paulista será alvo de escrutínio da Lava-Jato por causa do registro, em apenas três anos, de uma proeza: entre 2014 e 2016, a instituição financeira trouxe para o país em aviões fretados R$ 6,7 bilhões em espécie.

Se esse montante tivesse sido transportado em notas de R$ 50 e de uma só vez, teria ocupado todo o compartimento de cargas de um Boeing 737. A maior parte desta operação de importação de moeda foi feita com o paraguaio Banco Basa, antigo Amambay, que pertence à família do ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes.

A investigação suspeita que não haja atividade comercial no país vizinho capaz de justificar esse volume de movimentações. Há suspeita de lavagem de dinheiro para acobertar crimes. O banco paraguaio, por sua vez, diz que o dinheiro é resultante do comércio de produtos eletrônicos e bebidas, entre outros, para brasileiros que atravessam a fronteira e sustenta não haver qualquer ilegalidade.

A primeira investida da Lava-Jato de Curitiba contra o Banco Paulista, o comprador de moeda, foi feita há cerca de dez dias, quando foi deflagrada a 61ª fase da operação anticorrupção. Um colaborador e dois diretores do banco foram presos, entre eles Gerson Mendes de Brito, responsável pela área de controladoria.

Tráfico no radar

O ponto de partida da operação foi o relato de seis ex-colaboradores da Odebrecht que cuidavam do sistema de propinas montado pela empreiteira no exterior e que fizeram colaboração premiada. Aos procuradores, eles contaram que, quando precisavam lavar dinheiro em espécie que tinham em mãos no Brasil, recorriam ao Banco Paulista. Segundo eles, a instituição legalizava os valores emitindo notas fiscais por serviços que não tinham sido prestados.

De acordo com as investigações, o banco ajudou a lavar R$ 48 milhões de colaboradores da Odebrecht, que confessaram os crimes. Outros R$ 280 milhões pagos a supostos fornecedores também passaram a ser objeto de apuração. Mas os milhões de reais trazidos todos os meses para o Brasil em aviões fretados pelo Paulista são o alvo principal da investigação, que se desdobrará por novas fases ao longo deste ano.

Na semana passada, peritos da PF passaram dois dias nos escritórios do banco, envolvidos na tarefa de copiar servidores e registros de operações. Para os investigadores, todo tipo de atividade ilegal realizada por organizações que atuam no Brasil e no Paraguai — como contrabando, tráfico de armas e de drogas — está no radar da apuração.

Em depoimento à PF, o diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Joaquim, um dos presos na operação, disse que a importação de moeda é autorizada pelo Banco Central e representa uma movimentação mensal, em média, de R$ 300 milhões. Ele negou que os contratos com colaboradores da Odebrecht fossem fictícios.

Joaquim contou que se reportava diretamente ao dono do Paulista, o banqueiro Álvaro Augusto Vidigal. Fundador do banco, ele é dono de patrimônio que inclui um duplex de luxo e um apartamento no bairro Alto de Pinheiros, em São Paulo, salas comerciais espalhadas pela cidade e uma casa com 1,2 mil metros quadrados na Fazenda Boa Vista, refúgio da elite paulistana localizado no interior do estado, onde há campo de golfe, centro equestre e uma unidade do hotel Fasano. Sua assessoria informou que ele não daria entrevista.

O parceiro comercial do Banco Paulista, o Banco Basa, é hoje tocado pela irmã do ex-presidente paraguaio Horacio Cartes, que governou o país entre 2013 e 2018. Cartes ficou conhecido pela relação de amizade e os negócios com Dario Messer, um dos principais doleiros brasileiros, que tem dupla nacionalidade. Ele também foi alvo da Lava-Jato.

Wikileaks

Em documento vazado pelo Wikileaks em 2015, o ex-titular da Secretaria Antidrogas do Paraguai, Hugo Ibarra, disse a um interlocutor americano que “80% da lavagem de dinheiro no Paraguai são feitos por meio dessa instituição bancária”. O banco da família de Cartes nega a acusação. O conglomerado inclui empresas dedicadas a negócios de fumo, bebidas alcoólicas, refrigerantes e gado, além de veículos de comunicação.

O Banco Basa informou que dispõe de “controles, políticas e procedimentos de prevenção a lavagem de dinheiro, alinhados ao que está disposto nas legislações nacionais e internacionais”. Ao GLOBO, um porta-voz argumentou que a disponibilidade de reais do lado paraguaio se deve à baixa carga tributária oferecida em relação a produtos diversos, como eletrônicos.

A assessoria do Banco Paulista informou que a instituição não se pronunciaria sobre operações de importação de moeda. Em nota, disse que as investigações “dizem respeito a transações específicas relacionadas à área de câmbio, não impactando as atividades operacionais nem a liquidez e solidez da instituição”.

Fonte: O Globo

Alerj

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