06/10/2024
Destaque

Indústria naval perdeu 25 mil empregos no estado do Rio

A indústria naval brasileira pede socorro. Nos últimos seis anos, o setor fechou 80% de suas vagas, deixando milhares de pessoas desempregadas. O estado do Rio de Janeiro foi o mais afetado, com a eliminação de aproximadamente 25 mil postos de trabalho. Diversos estaleiros deixaram de funcionar e, os que ficaram, agonizam para não fechar as portas, agarrando-se a poucos contratos.

O quadro é bem diferente de 2014, quando o setor vivia seu melhor momento, impulsionado pela política de conteúdo local promovida pelos governos de Lula e Dilma, que priorizava os equipamentos nacionais na exploração e produção de petróleo e gás. As encomendas da Petrobrás e o aumento da produção offshore levaram a um aquecimento do setor em 19,5% ao ano até 2013, segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA).

Nesse período, o Brasil construiu 605 embarcações, chegando a gerar 82.472 empregos diretos em dezembro de 2014 (dados do Sinaval), além de qualificar mão de obra para a cadeia produtiva de óleo e gás. O boom na área naval também contribuiu com o desenvolvimento de diversos municípios fluminenses, que viram suas receitas aumentarem.

O gatilho para a decadência foi a Operação Lava Jato. O impacto sobre o setor fez com que a Petrobrás interrompesse diversos projetos e mudasse sua política, passando a encomendar suas unidades de produção em estaleiros da Ásia. Outras empresas que operam no Brasil fizeram o mesmo. Esta política foi mantida no governo Bolsonaro, que nos últimos quatro anos priorizou os lucros dos acionistas privados e passou a defender a privatização da maior companhia de petróleo brasileira. Dos 82 mil postos de trabalho, restaram apenas 13 mil. Mas estima-se que estas iniciativas tenham sido responsáveis pela perda de 300 mil empregos na cadeia produtiva de óleo e gás.

Construir no Brasil é um bom negócio

Enquanto milhões de brasileiros e brasileiras vivem o drama do desemprego, os estaleiros asiáticos comemoram. Os navios-plataforma FPSO Guanabara, FPSO Maria Quitéria, FPSO Almirante Barroso, FPSO Anna Nery, FPSO Anita Garibaldi, FPSO Marechal Duque de Caxias, FPSO Sepetiba e FPSO Almirante Tamandaré foram encomendados na China. As plataformas P-78 e P-80 foram para Singapura. Coube à Coreia do Sul a construção da P-79.
Ex-coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) e da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel afirma que construir nos estaleiros do Brasil sempre foi e continua sendo um bom negócio. Segundo ele, um investimento de R$ 1 bilhão realizado pela Petrobrás em exploração e produção impacta na geração de R$ 1,28 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) e de 26.319 postos de trabalho em todos os setores da economia.

– Somente o FPSO Maria Quitéria, que está sendo construído na China e deve entrar em operação na Bacia de Campos em 2024, tem um investimento previsto de R$ 5,6 bilhões. Isso poderia gerar um impacto de R$ 7,2 bilhões no PIB brasileiro e gerar 148 mil empregos aqui – compara o líder petroleiro.

Zé Maria recorda que o primeiro programa eleitoral de TV do presidente Lula em 2002 foi feito em frente ao estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis. “Ele afirmou que iria recuperar a indústria naval. Isso de fato aconteceu – saltamos de 5 mil trabalhadores para quase 90 mil. Tudo isso foi por água abaixo com a Lava Jato. Temos que lutar para que os investimentos no setor naval voltem a ser feitos no estado do Rio e no Brasil”.

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