Impeachment de Witzel: após tentativa de adiamento, sessão tem choro de pastor Everaldo e desabafo de Lucas Tristão - Tribuna NF

Impeachment de Witzel: após tentativa de adiamento, sessão tem choro de pastor Everaldo e desabafo de Lucas Tristão

O ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais, Lucas Tristão, disse que nunca foi “garoto de recado” durante o tempo que esteve à frente da pasta na gestão Wilson Witzel (PSC). Tristão foi o primeiro a ser ouvido nesta quinta-feira (17) pelo Tribunal Especial Misto, que julga o afastamento do governador. Preso, ele prestou depoimento por videoconferência.

Ex-aluno e braço direito de Witzel, ele é acusado de espionar deputados, e hoje se diz inimigo do governador afastado.

“Nunca fui garoto de recado e nunca participei nem tomei conhecimento de qualquer negócio espúrio com o governador”, disse.

Witzel foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por suspeita de corrupção. Segundo as investigações, ele seria o chefe de uma organização criminosa que teria desviado recursos públicos da área de Saúde durante a pandemia.

Além de Tristão, prestaram depoimento nesta quinta-feira (17), durante a sessão do processo de impeachment, as seguintes testemunhas: Luiz Roberto Soares, sócio da OS Unir Saúde; Gabriell Neves, ex-subscretário de Saúde; e Pastor Everaldo, aliado político de Witzel. Todos foram ouvidos até as 14h20.

Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico

Questionado sobre um encontro entre Witzel, o empresário Mário Peixoto e outros intermediários para a reclassificação da OS Unir Saúde, Tristão negou participação:

“Não tenho qualquer conhecimento a não ser as próprias narrativas ministeriais acerca do processo de reclassificação da Unir”.

A organização social Instituto Unir Saúde fechou vários contratos com a Secretaria de Saúde entre os anos de 2018 e 2019 até ser desqualificada como OS pelo estado em outubro de 2019.

Segundo as investigações da Operação Favorito, a OS movimentou mais de R$ 180 milhões em contratos de gestões de Upas na Baixada e teria como donos Mário Peixoto e seu operador financeiro Luiz Roberto Martins.

Tristão falou que, ao se mudar para o Rio, passou a ter um vínculo de amizade com Mário Peixoto, mas hoje não mantém mais contato com o empresário.

“Foi meu cliente, o filho dele também foi meu cliente, e desde 1º de janeiro, quando me mudei para o Rio de Janeiro, desenvolvi um relacionamento de amizade com ambos”.

“Eu nunca fui interlocutor ou intermediário de quem quer que seja, nunca fui garoto de recados. Sempre falei por mim mesmo”.

Ele também negou ter conhecimento de disputas entre grupos liderados pelo Pastor Everaldo e por Mário Peixoto.

Sobre os documentos do escritório de Helena Witzel que foram encontrados em sua sua casa, preferiu fazer uso do direito de permanecer calado.

Luiz Roberto Soares, sócio da OS Unir Saúde

O segundo a depor foi o sócio da OS Unir Saúde, Luiz Roberto Martins Soares, que também está preso e prestou depoimento por videoconferência.

Ele negou todas as acusações e ao ser questionado se um dos citados em uma escuta telefônica seria Mário Peixoto disse: “Não me lembro”.

O advogado de defesa afirmou que Luiz Roberto só responderá essa pergunta em juízo.

Pastor Everaldo chora ao citar filho com Covid

O terceiro depoimento foi do Pastor Everaldo, citado na delação premiada do ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, por conta de sua influência no Palácio Guanabara. Segundo a delação, era Everaldo quem mandava na Saúde.

“Não estou em condição de prestar nenhum depoimento neste processo por ser réu no STJ pelos mesmos motivos que estão sendo discutidos aqui nesta corte”, disse.

Alegou, ainda, estar preso indevidamente e disse que irá responder todas as perguntas que lhe forem feitas no julgamento no STJ.

O deputado Luiz Paulo fez vários questionamentos ao Pastor Everaldo sobre propinas na área de saúde, sem resposta.

“Para mim, o silêncio está simbolizando a concordância”, protestou o deputado.

Waldeck Carneiro perguntou há quanto tempo ele conhece Witzel. Everaldo se recusou a responder e foi repreendido pelo presidente do Tribunal de Justiça (TJRJ), Cláudio de Mello Tavares.

“Estou com um filho com Covid internado no hospital. Estou pronto para responder na Justiça a hora que for, mas é uma situação emocional muito ruim”, disse o pastor chorando.

Disse que conheceu Witzel no princípio de 2017, mas não recorda exatamente as circunstâncias. E confirmou conhecer também Mário Peixoto, Gabriell Neves e Edmar Santos.

“Nunca recebi R$ 15 mil de quem quer que seja ou do governador Witzel”, disse Everaldo.

“Me solidarizo com a testemunha, a respeito da dor por causa dessa doença [Covid-19]. São 180 mil mortes, e não sei onde vamos parar”, disse o desembargador Fernando Foch, relembrando acusações de fraude e corrupção na área da Saúde em governos anteriores.

Gabriell Neves, ex-subscretário de Saúde

O quarto a depor é o ex-subscretário de Saúde, Gabriell Neves, que preferiu manter-se em silêncio.

“Invocarei meu direito ao silêncio, tendo em vista que não tive acesso ao conteúdo da delação premiada do senhor Edmar Santos”, disse Neves a respeito das acusações de pagamento de propina e favorecimento de organizações sociais em contratações.

Ele já tinha sido ouvido por volta das 13h20 pelo Tribunal Especial Misto.

Pedidos de suspensão de depoimentos

A sessão foi iniciada por volta das 9h15 com abertura do presidente TJ, Cláudio de Mello Tavares, que informou que recebeu quatro pedidos de suspensão de depoimentos, entre eles, o do ex-secretário Edmar Santos.

O pedido de Santos, porém, foi parcialmente negado: ele deverá depor, mas foi guardado sigilo da delação feita com a Procuradoria-Geral da República.

“Ele irá depor, mas deverá guardar o pedido da delação que foi feita”, disse o presidente do TJRJ.
As outras solicitações foram feitas pelo Pastor Everaldo, o ex-subsecretário de Saúde, Gabriell Neves, e Luiz Roberto Martins Soares, sócio da OS Unir Saúde. As três foram negadas.

Um dos advogados de defesa de Witzel reclamou do volume do material e disse que não teve tempo suficiente de analisá-lo.

“Não há porque esse Tribunal Misto atropelar o direito à defesa. Recebemos 2 gigabytes de documentos. Tem mais de 15 horas de depoimentos ouvidos pelo Ministério Público. Não tivemos tempo hábil para ouvir tudo. E vão ouvir essas testemunhas hoje sobre esses documentos. Isso não é legal, isso não é justo”, disse.

“Temos uma pessoa-chave. Todas as acusações vêm de um delator, que não tem direito ao sigilo. Não dá para continuar todo esse processo sem ouvir o delator”.

“A defesa não tem condições de ouvir as testemunhas hoje e o governador não será ouvido amanhã”, afirmou o advogado.

Após a reclamação da defesa de Witzel, os 10 integrantes do colegiado do Tribunal Especial Misto decidiram colocar em votação o prosseguimento ou não da pauta. Oito mantiveram-se favoráveis à continuidade do processo nesta quinta.

Confira abaixo os votos:

A favor de ouvir as testemunhas:

  • Deputado estadual Waldeck Carneiro, relator do Tribunal Misto;
  • Desembargador José Carlos Maldonado de Carvalho;
  • Deputado estadual Carlos Macedo;
  • Desembargador Fernando Foch;
  • Deputado estadual Chico Machado;
  • Deputado estadual Alexandre Freitas;
  • Desembargadora Inês da Trindade;
  • Deputada estadual Dani Monteiro.

Votaram pelo adiamento da sessão:

  • Desembargadora Teresa Andrade (ela disse que as provas do STJ devam ser estudadas previamente);
  • Desembargadora Maria da Glória Bandeira de Mello (pediu o adiamento até que todos tenham acesso à documentação do STJ).

27 convocados

Ao todo, 27 testemunhas foram convocadas para prestar depoimento, algumas, no entanto, não foram localizadas.

Quem estiver em prisão domiciliar ou em presídio será ouvido por videoconferência.

Entre as principais testemunhas chamadas, estão Edmar Santos, ex-secretário de Saúde e que firmou delação premiada que implica Witzel no esquema de corrupção na pasta; Mário Peixoto, empresário preso na Operação Tris In Idem e apontado como principal articulador do esquema durante o governo Witzel; e Helena Witzel, esposa do governador afastado.

Tribunal Misto

O colegiado do Tribunal Especial Misto é formado por cinco deputados estaduais e cinco desembargadores. Veja abaixo:

  • Deputado estadual Waldeck Carneiro, relator
  • Deputado estadual Carlos Macedo
  • Deputado estadual Chico Machado
  • Desembargador Fernando Foch
  • Desembargador José Carlos Maldonado de Carvalho
  • Desembargadora Teresa de Andrade Castro Neves
  • Deputado Alexandre Freitas
  • Desembargadora Inês da Trindade Chaves de Mello
  • Deputada estadual Dani Monteiro
  • Desembargadora Maria da Glória Bandeira de Mello

Fonte: G1

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