Garotinho: ‘Há setores da Justiça do Rio que se aliaram a um esquema criminoso’
Por Cássio Bruno, Jornal O Dia
Rio – Condenado em segunda instância por formação de quadrilha pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), Anthony Garotinho, candidato ao governo pelo PRP, é o entrevistado de hoje da série do DIA com os principais concorrentes ao cargo. Na quinta-feira, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) o declarou inelegível por desviar R$ 234,4 milhões da Saúde no governo Rosinha, sua esposa. Ele nega. Garotinho recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e se mantém na disputa. Terceiro lugar no Datafolha, o ex-governador continua com a estratégia de atacar o Judiciário, o PMDB e os adversários Eduardo Paes (DEM), que lidera, e Romário Faria (Podemos), segundo colocado.
O DIA: O que mudará na campanha após a sua condenação?
ANTHONY GAROTINHO: Não muda absolutamente nada. Continuamos firmes e fortes. Isso acaba confundindo o eleitor.
Com certeza. Não tenha dúvidas. Um jornal chegou a afirmar que eu estava preso.
Álvaro Lins, então chefe da Polícia Civil, também foi condenado pelo TRF-2. O esquema de corrupção envolvia delegados acusados de receber propina para facilitar a exploração de jogos de azar.
A acusação é muito estranha. Diz que não houve combate às maquininhas (de caça-níquel). A gente apreendia. Eles (contraventores) entravam na Justiça, que, por sua vez, dizia que a competência era da Polícia Federal. Chegou um momento em que eu disse: vamos cuidar de outra coisa. A acusação contra mim é de que eu teria de saber o que os delegados faziam nas delegacias.
Mas o senhor chamaria o Álvaro Lins para fazer parte do governo?
Ele está excluído da polícia. Como vou chamar alguém que está excluído?
Para ocupar outro cargo.
A condenação dele foi injusta. Não é porque ele foi condenado que eu devo dizer que cometeu os crimes que são atribuídos a ele. Os crimes não procedem.
O senhor declarou que a Justiça do Rio precisa de intervenção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Por quê?
Há setores da Justiça do Rio que assumiram um papel que não deveriam ter assumido. Foram aliados do esquema criminoso que foi denunciado por mim. Em 2012, fui pessoalmente ao Ministério Público Federal e protocolei uma notícia-crime, onde relatava, com provas documentais, os crimes que estavam sendo cometidos por Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão, Sérgio Côrtes, Regis Fichtner, Wilson Carlos, Eduardo Paes, Jorge Picciani, Paulo Mello, Adriana Ancelmo e por outras autoridades estaduais e empresários. É lógico que, quando se toma uma atitude como essa, você se expõe. Também denunciei membros do Ministério Público e da Justiça.
O senhor foi preso três vezes por crimes eleitorais.
Não fui acusado de ter roubado nada. Foram medidas de retaliação. Uma atitude dos dois juízes e do promotor que atuaram no caso. Os denunciei ao CNJ e às respectivas corregedorias. Mas corregedorias internas protegem seus membros. Por isso, a intervenção. Embora a maioria de juízes e desembargadores seja correta, e o mesmo vale para o Ministério Público. São maçãs podres dentro de uma cesta boa. Comprometem a instituição. A minha candidatura não interessa a esse sistema. Eu denunciei um sistema.
No seu governo também houve corrupção.
Como existe em qualquer governo ou empresa. São casos isolados. Quando se organiza um governo para roubar, é o que caracteriza uma organização criminosa. Se um funcionário púbico ou de cargo de confiança perde a sua confiança e age errado, pode acontecer em qualquer lugar. Nos casos que ocorreram no meu governo, (os responsáveis) foram punidos. A eleição do Rio será o seguinte: se o eleitor optar pelo Eduardo Paes (DEM), sinaliza querer o mesmo sistema (de corrupção chefiado por Cabral).
Tem o Romário (Podemos), que também lidera as pesquisas.
Tenho respeito por ele como jogador. Para administrar o governo, usarei a expressão usada por ele para falar do Pelé: Romário, como jogador, é um craque. Como político, de boca fechada, é um poeta. O eleitor do Rio não pode nesta eleição correr o risco de perpetuar o sistema corrupto ou votar em candidato que não tem experiência para governar.
O senhor fala de corrupção do PMDB, mas foi do PMDB e fez parte do grupo do Sérgio Cabral.
Fiquei 18 anos no PDT. Fui para o PMDB depois de ser candidato à Presidência pelo PSB. Havia um conflito interno. O Eduardo Campos sonhava em ser candidato. Fui excluído do PSB. Brizola me chamou para voltar. Conversamos no sítio dele, em Itaipava. Estive também com o Moreira Franco, que me alertou que a Rosinha precisava ter maioria na Alerj. Falei de novo com Brizola. Ele entendeu e disse: “o PMDB é como prostituta. Vai para cama com todo mundo, faz amor com tudo mundo, mas não se apaixona por ninguém”.
Mesmo assim, o senhor foi para o PMDB.
Mas não me envolvi. A imposição do Pezão como vice (na chapa de Cabral, em 2006) foi justamente por isso. O Cabral representava um grupo. Pezão e eu vínhamos do PDT. Já que o candidato a governador (Cabral) era do grupo do Picciani, do Paulo Melo, o vice teria de ser do meu grupo. Eu só não esperava que o Pezão caísse na tentação do patrimonialismo em função da convivência com o Cabral.
Qual será a prioridade do seu governo, caso eleito?
Qualquer governante, que tenha a mínima noção da situação do Estado, a prioridade é pôr as finanças em ordem. Fiz um plano para renegociar a dívida do estado sem a imposição desse ajuste fiscal, que traz prejuízo e é impossível de ser cumprido.
Mudará o processo de recuperação fiscal atual?
Isso. Quando digo que esse processo é impossível de ser cumprido, não estou me baseando em nenhuma argumentação filosófica. Um dos artigos (do acordo) diz que as parcelas que não forem pagas, no fim de três ou seis anos, serão quitadas uma para frente e outra para trás. E a parcela que não for paga será corrigida pela tabela Price (sistema de amortização de empréstimo. Tem como característica prestações iguais). Para um estado que não está conseguindo pagar uma parcela, como pagará duas? Impossível!
O que pretende fazer?
Os detalhes estão no meu plano de governo. São detalhes técnicos. Não valeria a gente antecipar. Mas asseguro a você que o Rio é viável. E só é viável se a primeira medida for resolver a questão fiscal e financeira.
Como será a política para os servidores?
A primeira coisa que um servidor quer é um calendário de pagamento. Na época em que governei, depois que normalizei o fluxo de caixa do Estado do Rio, fazia pagamento até o quinto dia útil e os servidores recebiam um calendário onde vinha marcado até o fim do ano a data do pagamento para eles se programarem. Não houve atraso. Mas existem algumas categorias que têm questões como as do planos de cargos e salários, e outras de reposição (salarial). Precisam ser vistas caso a caso.
Na segurança, haverá alguma medida imediata?
Prevenção, modernização e equivalência do confronto, que, aliás, será a primeira medida que vou adotar. Na minha época (de governador), havia o Getam (Grupamento Especial Tático Móvel). Era um comboio, com quatro patamos, com quatro policiais armados de fuzis em cada uma, e ficavam 24 horas por dia rodando as principais vias. A equivalência de força é princípio básico da polícia.
Haverá parceria com as Forças Armadas?
Utilizar as Forças Armadas não é ruim. Mas da forma como estão sendo utilizadas e como esse processo de intervenção começou, é absurdo.
Pedirá ou não apoio do Exército?
Tenho um plano para a segurança. Se eles puderem colaborar, serão bem-vindos. Mas não vou submeter o meu plano de segurança pública (ao Exército).
Hospitais com grandes emergências estão sucateados. Como resolver?
Vou reduzir e controlar as Organizações Sociais porque é um ralo de dinheiro.
Acabará com as OSs?
Não. Reduzir e controlar. Vou chamar os prefeitos para organizarmos. O SUS bem organizado é o melhor sistema. Também vou reabrir o Instituto Vital Brazil para produzir medicamentos e reabrir as farmácias populares.
Na educação, faltam professores e as escolas têm problemas de infraestrutura.
Na contramão, escolas foram fechadas. Vou mudar o papel da Faetec, que continuará com as suas escolas, mas coordenará a implantação do ensino técnico e tecnológico em todas as escolas estaduais à noite. Estudos mostram que, nos próximos 10, 15, anos, 16 milhões de postos de trabalhos vão sumir e surgirão outros. Se não capacitar os jovens, eles vão fazer o quê?
A despoluição da Baía de Guanabara ainda é um problema.
O programa começou com Brizola (financiado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão e o Banco Interamericano de Desenvolvimento). Teve continuidade com Marcello Alencar, no meu governo e no da Rosinha. Parou com Cabral. É preciso retomar. Mas grandes obras foram feitas. Conversarei com esses organismos multilaterais.