Garotinho: 'Cláudio está se tornando um novo Sérgio Cabral, e se não mudar suas atitudes o fim será o mesmo', diz ex-governador ao Globo - Tribuna NF

Garotinho: ‘Cláudio está se tornando um novo Sérgio Cabral, e se não mudar suas atitudes o fim será o mesmo’, diz ex-governador ao Globo

Lançado pré-candidato depois de uma conversa conflituosa com o governador Cláudio Castro, a quem agora chama de “novo Cabral”, Anthony Garotinho (UB) nega que esteja em busca de cargos. Em entrevista ao GLOBO, ele reconhece que o União Brasil não é o partido com o qual mais se identifica e ressalta a proximidade com Bolsonaro ‘na questão dos princípios, como o aborto’.

Confira a entrevista:

O senhor lançou sua pré-candidatura depois de uma conversa malsucedida sobre cargos na semana passada com o governador Cláudio Castro. Não parece que o senhor está sendo candidato por oportunismo na medida em que não conseguiu o que queria?

Não deixei de apoiar o Cláudio por falta de cargo. Sei o que ele não tinha cumprido com a Clarissa (Garotinho, filha do ex-governador), mas a minha avaliação é que o governador está no caminho errado. Cláudio está se tornando um novo Sérgio Cabral, e se não mudar suas atitudes o fim será o mesmo. O Cabral começou a ser derrubado por pequenas coisas, como a farra de helicóptero, as festas, o deslumbramento com o poder, e o Cláudio está com o mesmo sintoma.

Mas o que ele havia combinado com a sua filha?

Não quero atrapalhar o projeto político da minha filha, que será candidata a deputada federal. O Cláudio criou uma cizânia dentro da minha casa. Primeiro, oferece milhões em dinheiro público para o meu filho Wladimir (prefeito de Campos dos Goytacazes) fazer obras e diz para mim “seu filho eu já tenho”. Agora, me avisou que não quer que a Clarissa passe na frente dele só porque questionou a festa de aniversário.

O seu partido, o União Brasil, tem cargos no governo como as secretarias de Transportes e Meio Ambiente e o presidente estadual do partido, Waguinho, já pediu publicamente mais espaços na administração. Não é um comportamento típico de “partido da boquinha”, expressão que o senhor já usou para qualificar o PT?

O Cláudio me chamou lá para dizer que queria acertar comigo. Me reservo aqui o direito de não dizer o que ele me ofereceu. O que existem são acordos feitos com deputados que estavam no União Brasil ou vieram na janela partidária. Institucionalmente, que eu saiba, o partido não foi atendido e o Waguinho também diz que não cumpriram o que foi tratado com ele.

O senhor, aliás, está num partido que reúne vários de seus antigos rivais, como a família Brazão, a família Cunha e o ex-presidente da Alerj Paulo Melo. Não é contraditório?

Os partidos do Brasil são como fantasia de carnaval. Infelizmente, você usa e depois descarta. Eu sou um trabalhista, tenho a mesma doutrina desde sempre, que vem de Alberto Pasqualini, Getúlio Vargas e Leonel Brizola. Agora, tenho que me adaptar à realidade. Eu iria para onde? Chegou o momento aqui no Rio em que eu não conseguia nem me filiar, fui candidato na eleição passada pelo PRP, que nem tempo de televisão tinha. Há dez anos tento voltar para o PDT, um pedido do Brizola na véspera de morrer, mas o (Carlos) Lupi não deixa.

Até do PMDB o senhor já foi…

Foi o meu grande erro do passado. Mas depois destruí o PMDB do Rio e aquela quadrilha de Sérgio Cabral e Jorge Picciani.

Por falar em Cabral, o que dizer hoje dos mais de cinco anos de prisão dele?

O Cabral, diferentemente de outros, é réu confesso. Confessou quase tudo. O problema é que quis fazer uma delação contra o poder Judiciário. Isso está prejudicando sua defesa. Onde está na lei que é permitido manter alguém preso preventivamente por quase seis anos?

No cenário nacional, o senhor se vê mais próximo a Lula ou Bolsonaro?

Vou seguir a orientação do meu partido, que vai oficializar a pré-candidatura do Bivar. Não acho que o quadro existente hoje de polarização é definitivo. Na questão dos princípios, sou mais próximo do que defende o Bolsonaro em relação ao aborto, por exemplo.

Concorda com a forma como o governo federal combateu a pandemia?

Mas foi o Bolsonaro quem comprou e distribuiu as vacinas. Eu vou tomar a quarta dose agora, não sou anti-ciência. Acho que esses posicionamentos e declarações não são suficientes para ser contra um candidato. Se fosse por declarações, teriam outras coisas que o Lula já falou, como a defesa ao regime de Nicolás Maduro, que seriam dignas de resistências. A quantidade de pessoas que morreu e fugiu deste regime é absurda.

Sua filha Clarissa está apoiando abertamente o presidente e pelo visto o senhor não quer criticar ele…

Tenho críticas com relação a armas. Acho que o ministro Paulo Guedes está com um erro conceitual gravíssimo com essa medida de aumentar os juros, tratando a inflação do Brasil como se fosse de demanda, quando na verdade é de custos da energia e do combustível. Mas isso o Lula também fez, ele mesmo admite que fez um governo bom para os banqueiros. A Clarissa hoje está em Brasília e considera que o governo tomou boas medidas como a redução de impostos. E ela viu o que o PT fez comigo no passado.

Como assim?

Lula, Dirceu e o PT operaram para me derrubar. Afinal, quem foi o grande parceiro da corrupção no Rio ao lado do Sérgio Cabral? Quem enchia os bolsos do Cabral para PAC e teleféricos que não funcionavam? O vice do Eduardo Paes era do PT, lembram? É por isso que evito precipitações ao declarar votos para o segundo turno. Embora as minhas raízes tenham mais identidade com as causas do Lula, eu sei o que vivi na pele durante o governo dele. Ele sabia que eu era uma liderança popular, correndo na mesma faixa, e tentou me aniquilar. Como presidente, boicotou o governo da Rosinha. Exigiram que o PSB me expulsasse (após a eleição de 2002) em troca de ter um ministério no governo. O núcleo comandado pelo Dirceu foi meu grande inimigo na política.

Caso eleito, o senhor pretende rever o Regime de Recuperação Fiscal?

Esse acordo de recuperação fiscal é um calote anunciado. O estado não pagará a dívida e vai empurrando para frente até o momento em que vai ter que quitar tudo. A dívida precisa ser auditada novamente e renegociada. A grande questão econômica atual é como o dinheiro da Cedae está sendo usado para loteamento político. Cláudio está gastando a verba do povo e do governo para não ter adversários.

Imagina rever as concessões dos trens, barcas e metrô?

A SuperVia é a maior vergonha do estado. Não há outra opção senão chamar os concessionários, apontar os pontos não cumpridos e decidir entre tomar de volta a concessão para o estado ou buscar um investidor que de fato queira colocar trens para população. Quanto ao metrô, ele tem funcionado razoavelmente bem, mas acho que a expansão é lenta. O Cabral caiu na loucura de fazer estações voltadas para Olimpíadas, que não beneficiaram o conjunto da população. Acho que as barcas precisam de mais linhas para outras regiões do estado.

Os índices de letalidade violenta atuais estão abaixo dos registrados no seu governo e da Rosinha, por exemplo. Como fazer para que os índices não voltem aos da sua gestão?

Tudo o que existe em termos de segurança pública, ainda funcionando, foi feito na minha gestão. Se os números de violência subiram na minha gestão é por um motivo: foi no meu mandato que eles foram colhidos, informatizados e auditados. Hoje quem controla os números é a polícia. Quem garante que são verdadeiros? Ninguém. Em contrapartida, quem criou o Instituto de Segurança Pública (ISP)? Eu. A corregedoria externa? Eu. As Delegacias Legais? Eu.

Também foi o senhor quem nomeou o Álvaro Lins, condenado à prisão, na chefia da Polícia Civil…

Sempre achei que tinha algo errado nas investigações contra ele, mas não tinha como provar. Descobri há pouco tempo que a única testemunha do processo contra o Álvaro Lins era um delegado chamado Maurício Demétrio (preso no ano passado acusado de forjar provas em investigações). Quando eu era secretário de Segurança da Rosinha, o afastei da Secretaria de Meio Ambiente e coloquei na geladeira, já que estava extorquindo a Bayer. Com o Cabral, ele ganhou delegacias e espaço.

Quanto à sua elegibilidade, o senhor tem duas condenações em segunda instância que o tornam inelegível hoje. Uma na área eleitoral por cooptação de votos em Campos e outra por improbidade na área da saúde. Como pretende ser candidato com essa bagagem a ser resolvida?

Isso é um absurdo. Sobre o primeiro caso, o programa que me acusam de usar para cooptar votos teve aumento de agraciados graças a um empréstimo que conseguimos para ajudar mais pessoas. Pedimos a extensão de um pedido de anulação de sentença nesse suposto esquema, por necessidade de perícia nas provas, e tenho convicção de que meu caso voltará à primeira instância. Sobre a suposta improbidade, eu era secretário de governo e fiz um ofício. A promotoria diz que sou responsável por enriquecimento de terceiros. Um absurdo, ninguém diz que eu enriqueci. Fui julgado sem advogado. Com um novo advogado, entramos com pedido de reconhecimento de prescrição desse caso no STJ. Vamos aguardar.

O senhor já foi governador e terceiro colocado em uma disputa presidencial. Agora, já expôs a dificuldade de conseguir encontrar um partido e tem todos esses casos para resolver na Justiça. Não se considera em decadência?

A pessoa entra em decadência quando não muda. A essência do mundo é a mudança. Eu leio muito, me preparo. Hoje, faria uma gestão mais madura, melhor. Faz parte da idade e do crescimento como pessoa.

Usando uma expressão informal, não tem previsão de quando vai “largar o osso” da política?

Quando nenhuma tarefa me entusiasmar mais. Hoje, tenho a missão de impedir a volta dos métodos de Sérgio Cabral. Acho que sou o mais preparado para isso. Se não me deixarem ser candidato a governador, não serei a nenhum outro cargo.

Fonte: O Globo

Alerj

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