Coronavírus pode persistir por mais de um mês, revela estudo - Tribuna NF

Coronavírus pode persistir por mais de um mês, revela estudo

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde consideram 14 dias o tempo que uma pessoa infectada pelo coronavírus é contagiosa, mas recentemente este período considerado crítico foi encurtado para 10 dias. Mas dados do Centro de Triagem e Diagnóstico (CTD) da UFRJ revelam que cerca de 60% das pessoas infectadas continuam positivas e potencialmente contagiosas 14 dias após o surgimento dos sintomas. E 20% por mais de um mês.

Fez parte do estudo do grupo a descoberta do mais longo caso de persistência já documentado no mundo, o de uma mulher que passou 152 dias infectada pelo coronavírus. Outros casos de infecção prolongada, alguns por mais de 100 dias, também permanecem em investigação.

Se imaginava que, após cerca de 14 dias, pessoas assintomáticas positivas deixariam de ser contagiosas porque há dificuldade de replicar vírus extraídos de amostras delas em laboratório. Mas os cientistas da UFRJ argumentam que isso ocorre devido a dificuldades inerentes ao cultivo do coronavírus e não ao fato de ele não se multiplicar.

— A segurança dos 14 dias é uma fantasia — diz Terezinha Castiñeiras, que estuda a persistência em colaboração com Luciana Costa, do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes.

O estudo de casos de persistência mostra que a carga viral em pessoas ainda positivas entre 14 e 21 dias frequentemente permanece elevada, indicador de seu potencial de transmissão. Por isso, Terezinha e sua equipe defendem que 21 dias é o tempo mais adequado para uma pessoa se manter isolada. No caso dos profissionais de saúde, a volta ao trabalho só deveria acontecer após negativa no exame de PCR.

— Chama a atenção o fato de haver assintomáticos positivos por mais de um mês — salienta o professor de infectologia Rafael Galliez, que realiza com Isabela Carvalho e Debora Faffe um estudo observacional clínico-epidemiológico dos profissionais de saúde e segurança em acompanhamento no CTD.

Os profissionais de saúde infectados por mais tempo trazem um dilema. Se mantidos por muito tempo afastados, fazem imensa falta ao já carente setor de saúde. Porém, se voltam ao trabalho, expõem os pacientes ao risco de contrair a Covid-19.

Terezinha Castiñeiras diz que a pressão de gestores de saúde muitas vezes é grande:

— Já houve caso de pedirem para não revelarmos o resultado do exame a profissionais. Consideramos um absurdo.

Os cientistas trabalham com a hipótese de reinfecção para alguns casos misteriosos. São oito pessoas que contraíram o coronavírus entre março e abril e foram acompanhadas até ter um resultado negativo. Após alguns meses, elas voltaram ao CTD: além de sintomáticos, tinham quadros clínicos diferentes.

A resposta para os casos está no sequenciamento genético de vírus coletados na primeira e na segunda infecção. Os cientistas vão investigar se se trata de linhagens diferentes do Sars-CoV-2, o que comprovaria uma reinfecção.

— Acreditamos que a reinfecção pode sim ocorrer. Ela deve ser menos comum que a persistência, mas é possível — diz Terezinha Castiñeiras.

O Globo*

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