Canabrava encerra safra arrastando dívidas com fornecedores e bloqueando portões da usina
À cada um fornecedor, o porta voz de Rodrigo Luppi apresentou uma proposta, mas em todas propôs parcelar as dívidas até meados de 2024; usina teve portões fechados na manhã desta sexta-feira (13), bloqueando a única entrada de acesso ao parque industrial e ao prédio da administração.
Após reunião sem sucesso com fornecedores de cana-de-açúcar, na última quarta-feira (11), quando o diretor administrativo da Usina Nova Canabrava, Alex Rossi, propôs uma confissão de dívida pela Canabrava – que fica entre municípios de Campos e São Francisco de Itabapoana -onde estaria detalhado o parcelamento das dívidas da safra com os empresários, com pagamento até meados de 2024. Os cheques sustados e dívidas com fornecedores chega ao montante de R$ 10 milhões. Alguns fornecedores aceitaram a proposta, outros não.
Na manhã desta sexta-feira (13), foi registrado vídeo de funcionários da Canabrava vedando portões de acesso ao parque industrial. A obstrução, segundo um prestador de serviços, seria em atendimento a determinação da direção, o que, de certa forma, impedirá o livre acesso dos fornecedores à usina, diferente do que Rossi disse, na noite de terça-feira, quando indagado por um dos credores.
“Chegamos onde chegamos esticando a corda e este ano vai ser diferente. De forma alguma. Vocês são fornecedores de cana e têm livre acesso aqui na usina. Vamos fazer mais uma ligação pra eles [donos da usina, supostamente Rodrigo Luppi e esposa, Angela Cristina Conti] e iremos resolver isso” disse Alex, sendo endossado pelo responsável pela segurança na usina, conhecido como Marcão. “Inclusive, acabei de falar com o ‘chefe’ e ele falou que vocês, como fornecedores, têm livre acesso aqui”.
No ano passado, para entrarem no parque industrial, os fornecedores tinham que ligar para o diretor agrícola, Edilásio Manhães para, com seu consentimento, poderem entrar. No entanto, as ações do grupo que administra a Canabrava não coadunam com as declarações.
Na proposta do porta voz de Luppi, os fornecedores receberiam “novos” cheques, parcelando as dívidas da indústria até a safra do próximo ano, sendo que a cana colocada na usina já foi processada, transformada em álcool e transportada para distribuidoras. Inclusive, as transações comerciais suspeitas envolvendo supostos donos da Usina Canabrava, todos os anos ganham destaques na mídia local e nacional.
Além de Rodrigo, a esposa dele, Ângela Cristina Conti de Oliveira, também tem nome citado em diversos processos que envolvem a RLO, a Álcool Química Canabrava, Canabrava Agrícola S.A., Canabrava Energética S.A., Portopar Participações S.A., Usina Sobrasil S.A., Canabrava Bioenergia Quissamã S.A., Canabrava Bioenergia Participações S.A. e a própria Usina Nova Canabrava. É de propriedade de Ângela a empresa ACC Agrícola Eireli, emissora dos cheques sem fundos emitidos pela Canabrava para pagamento aos fornecedores de cana-de-açúcar.
Arrendatário que assumiu o comando da Canabrava no ano de 2018, Rodrigo Luppi de Oliveira, prometeu não só reerguer a indústria, como também reconquistar credibilidade da usina junto aos fornecedores. Embora tenha conseguido aumentar a produção e, consequentemente, os lucros com a fabricação de álcool e geração de energia, deu continuidade as antigas práticas na emissão de cheques sem fundos. Aliado a isso, um ano depois, em maio de 2019, acionistas tentaram afastar Rodrigo da usina. Ele é investigado por diversas esferas da Justiça, como Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual, por crimes contra a ordem econômica durante a gestão da Canabrava.
Foi também à frente da Canabrava que Rodrigo, proprietário da RLO Solução Empresarial, que a usina foi interditada duas vezes pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) pelo flagrante de 16 milhões de litros de etanol contaminados com metanol, oriundos da indústria que fica entre os municípios de Campos e São Francisco de Itabapoana. O produto era transportado por carretas, sem adesivos de identificação e com notas falsas. Os crimes de produção e comercialização de combustível adulterado, captação de recursos públicos e desvio de capital entre 2012 e 2016, engrossam a ficha corrida da usina de álcool e de Luppi que, quando assumiu a empresa, teria ciência dos problemas herdados.
Enquanto as dívidas com fornecedores são “empurradas”, o número de processos contra Luppi crescem e uma das distribuidoras beneficiadas por esquemas fraudulentos seria a Minuano, com sede em Duque de Caxias. A empresa está no nome da mãe de Rodrigo, Roxane Arlezer Luppi de Oliveira, também suspeita de crimes contra a ordem tributária, com transporte de etanol para São Paulo e Minas Gerais em caminhões tanque com nota fria e sem licenças ambientais do Ibama e do Inea.
O Fundo de Bioenergia – detentora do controle acionário da Usina Canabrava -, chegou a contestar judicialmente Rodrigo Luppi quando assumiu como arrendatário da indústria. De acordo com declaração dos acionistas, “após o arrendamento, a usina passou a ser sangrada por Luppi, porque o mesmo vende toda a produção de etanol por um preço subsidiado para distribuidoras de sua família, transferindo todo o lucro para os mesmos e arruinando a Canabrava”. A denúncia foi feita, no ano passado, ao jornal O Dia.
Novas tentativas de comunicação foram feitas para obter posicionamento da usina, mas nenhum dos números disponibilizados, completa a chamada. O telefone do diretor administrativo da Canabrava, Alex Rossi, está desligado ou fora da área de cobertura.
Ascom*