Com o fim do ciclo do MDB, Alerj terá acirrada eleição para a presidência - Tribuna NF

Com o fim do ciclo do MDB, Alerj terá acirrada eleição para a presidência

RIO – Uma série de operações contra a corrupção respingou em 26 deputados — um terço de todo o Legislativo estadual —, levando para a cadeia muitos deles e colocando uma pá de cal na hegemonia do MDB (antigo PMDB), que comandava o Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa, desde 1995. Agora, a mudança definitiva começa a se delinear mais claramente com a mobilização inédita dentro da Casa para eleger o novo presidente da Alerj, na mais acirrada disputa dos últimos anos.

Há muito tempo, não se via quatro parlamentares pleiteando o posto, que antes era definido a partir de acordões. O quadro é resultado da renovação. Com 36 novatos entre os 70 eleitos, a Assembleia surge rejuvenescida, porém, bem mais fragmentada. Em 2019, serão 28 partidos contra os 22 atuais. Desses, 12 têm apenas um deputado.

Quatro nomes se destacam na corrida para a presidência: André Ceciliano (PT), que atualmente é presidente interino da Casa e tenta se efetivar no cargo; Márcio Pacheco (PSC); Tia Ju (PRB); e Chicão Bulhões (Novo). O efeito do prestígio do presidente eleito, Jair Bolsonaro, só poderá ser testado de forma indireta. O partido dele, o PSL, desistiu de apresentar a candidatura do deputado Rodrigo Amorim, eleito pela legenda e campeão de votos nas últimas eleições. O outro, que era considerado favorito na disputa, Andre Corrêa (DEM), foi preso pela Operação Furna da Onça.

Para garantir a vaga na presidência da Mesa Diretora da Alerj, em 2 de fevereiro, o único estreante Chicão, de 30 anos, que é formado em Direito, está correndo gabinetes com a minuta de um documento, com propostas para melhorar a governança da Casa, algo inimaginável num passado recente.

— Pela primeira vez, a Alerj está tendo uma disputa em que uma candidatura apresenta ideias, que nasceram de um coletivo de parlamentares e de sugestões de entidades e instituições. Entre as 32 medidas que mapeamos até agora, estão acabar com a reeleição da presidência, ou seja, com o poder eterno de pessoas que se sentam naquela cadeira, e implementar a reforma da estrutura administrativa da Alerj. Queremos instituir regras, inclusive de compliance, e dar total transparência a dados da Assembleia — exemplifica Chicão, que diz já contar com o apoio de 16 parlamentares.

Mas Ceciliano, que assumiu a presidência este ano — Jorge Picciani (MDB), que ocupava o cargo, foi preso —, só vê um opositor: Pacheco, que tem a bênção da família Bolsonaro.

— Para registrar uma chapa para concorrer à Mesa Diretora, são necessárias 13 assinaturas. Ninguém mais tem, só eu e Pacheco — assegura.

PSL não quer petista

A principal resistência ao nome do petista vem justamente do PSL, que tem a maior bancada. Nos bastidores, corre ainda a história de que o governador eleito Wilson Witzel (PSC) tem mandado um emissário à Alerj para tentar negociar uma chapa única com Ceciliano à frente. Nessa hipótese, o PSL ficaria com a primeira vice-presidência, a secretaria e as comissões de Constituição e Justiça e Orçamento, as mais importantes da Casa. A manobra promete ter reação barulhenta.

— Não abro mão do meu compromisso com o PSOL — garante Ceciliano, que prometeu ao partido, em troca de apoio, a permanência na presidência da Comissão de Direitos Humanos, que o PSL quer abocanhar.

Citado no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que identificou movimentações financeiras atípicas nas contas de servidores da Alerj, Ceciliano diz que o fato não abala sua candidatura.

— Quem tem que responder é a pessoa que fez a movimentação, seja no seu CPF ou no seu CNPJ — afirma, referindo-se aos funcionários de seu gabinete citados no relatório.

Oficialmente, Witzel tem declarado que se manterá neutro. Por nota, ele reiterou que a escolha do novo presidente da Casa será uma decisão “soberana” dos deputados.

Mesmo apoiado pelos Bolsonaro, Pacheco não tem unanimidade no PSL. Mas a palavra final foi de Flávio Bolsonaro, que comanda o partido no Rio.

— Derrotamos a esquerda nas urnas. Não teria por que apoiarmos uma candidatura do PT. Se a eleição fosse hoje, votaríamos no Pacheco — afirma o futuro líder do PSL na Alerj, Anderson Moraes.

Por ora, a decisão partidária apaziguou a bancada do PSL, que estava dividida, com um grupo defendendo com vigor a candidatura de Amorim.

— Todos estamos com o Pacheco neste momento. Não quer dizer que o cenário não possa mudar — ressalta Alexandre Knoploch (PSL).

O próprio Amorim garante que abre mão de sua candidatura para o apoio a Pacheco. E não acredita que a citação de Pacheco no relatório do COAF seja empecilho. O próprio Pacheco se defende:

— Alguns dos citados nunca foram meus funcionários. São servidores da Alerj. Preparei documentos para mostrar que não incorri em irregularidade.

Da bancada evangélica, a deputada Tia Ju assegura que, neste momento, é mais do que nunca, candidata à presidência:

— O meu nome não foi citado em nenhuma investigação. Além disso, por que não ter, pela primeira vez, uma mulher na presidência da Alerj? — indaga.

Fonte: O Globo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *