São João da Barra e o orçamento bilionário invisível

Câmara Municipal de São João da Barra protagonizou, nesta quarta-feira, mais um episódio da fascinante série “COMO SÃO JOÃO DA BARRA GASTA QUASE UM BILHÃO SEM MUDAR A REALIDADE”. Com a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2026, a cidade assegurou uma receita estimada em R$ 979,6 milhões. Trata-se de um montante que faria inveja a capitais brasileiras e que, em teoria, deveria transformar o município em uma vitrine de excelência urbana. No entanto, quem caminha pelas ruas sanjoanenses percebe que a matemática orçamentária habita um universo paralelo, muito distante da poeira e das carências da vida real.
Ao dividir o orçamento de R$ 1 bilhão pelos cerca de 40 mil munícipes, chegamos a R$ 25.000,00 por pessoa, um montante muito superior ao ganho anual da maioria dos sanjoanenses. Sendo mais preciso: os R$ 979,6 milhões divididos pela estimativa atual do IBGE de 38.740 habitantes resultam em exatos R$ 25.286,53 por habitante. Esse cálculo simples leva à conclusão de que São João da Barra possui uma das maiores rendas per capita do Rio de Janeiro e também do Brasil. No mínimo, há algo de muito estranho acontecendo no município. Afinal, para onde está indo todo esse dinheiro?
É um fenômeno curioso de se observar. Temos um município com a arrecadação de um emirado árabe, mas com infraestrutura de uma vila esquecida no tempo. O Plano Plurianual (PPA), também aprovado para vigorar até 2029, promete identificar prioridades a médio prazo. Resta saber se, entre essas prioridades, consta finalmente a aplicação eficiente dos recursos ou se continuaremos assistindo ao espetáculo de obras intermináveis e serviços públicos que oscilam entre o mediano e o inexistente, a despeito do caixa abarrotado.
O Legislativo, em seu “esforço hercúleo de co-gestão” (SIC!), inseriu 133 emendas impositivas ao texto. É louvável o empenho dos nobres edis em garantir fatias específicas do orçamento, mas a fragmentação de recursos em centenas de pequenas ações muitas vezes serve mais como MOEDA DE TROCA POLÍTICA do que como vetor de desenvolvimento estrutural. Enquanto se discute o destino de verbas pontuais, o macroprojeto de cidade inteligente e desenvolvida continua sendo uma miragem no horizonte, sempre prometida para o próximo quadriênio.
Com a missão cumprida, a Casa de Leis inicia seu merecido recesso parlamentar até meados de fevereiro. É compreensível; afinal, aprovar a gestão de quase um bilhão de reais sem exigir uma contrapartida de transformação radical da cidade “deve ser exaustivo”. A promessa de que os gabinetes continuarão funcionando e de que sessões extraordinárias podem ocorrer soa como um consolo protocolar para uma população que, ano após ano, vê os cifrões crescerem nos diários oficiais, mas não na qualidade de vida.
Sônia Pereira, presidente da Casa, encerrou os trabalhos com a assertiva de que estão ali para “fazer o melhor para todos”. O conceito de “melhor”, contudo, parece sofrer de uma inflação interpretativa. Para um município que arrecada tanto, o “melhor” deveria ser, no mínimo, saneamento universal, saúde e educação de ponta e urbanismo impecável. Por enquanto, o “melhor” tem sido apenas a eficiência burocrática de aprovar números grandiosos que, misteriosamente, evaporam antes de tocar o solo da realidade.
São João da Barra segue, portanto, como um estudo de caso ímpar: a cidade rica que insiste em parecer pobre. O dinheiro existe, a lei o garante e os vereadores o carimbam. O que falta, talvez, seja a vontade política de fazer com que esse bilhão deixe de ser uma abstração contábil e se torne, finalmente, dignidade concreta para o cidadão que paga a conta e pisa no barro.
Fonte: Campos360News


