Rio de Janeiro pode se tornar inabitável com avanço da crise climática, alerta cientista

O Rio de Janeiro pode se tornar uma cidade inabitável por vários meses ao ano se o planeta continuar esquentando no ritmo atual. O alerta vem do cientista Carlos Nobre, um dos principais climatologistas do mundo e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP. Em entrevista ao jornal O Globo, ele classificou o momento atual como “a maior ameaça desde o surgimento da civilização”.
De acordo com Nobre, o planeta já ultrapassou o limite crítico de 1,5°C de aquecimento em relação à era pré-industrial, e pode chegar a 4°C até o fim do século. O Rio, com seu histórico de ondas de calor, desigualdade urbana e alta densidade populacional, seria um dos alvos mais frágeis da crise. “Se continuarmos nessa trajetória, grandes regiões da Terra vão ficar inabitáveis. Inclusive o Rio de Janeiro”, alerta o cientista.
Além de destacar o avanço do aquecimento global, Nobre chama atenção para o colapso iminente da Floresta Amazônica, onde a estação seca já aumentou entre quatro e cinco semanas nas últimas décadas. “Antes, tínhamos secas severas a cada 20 anos. Agora, tivemos quatro em menos de duas décadas, e a última foi a pior da história, entre 2023 e 2024”, disse.
O cientista voltou a denunciar o uso do fogo como ferramenta de desmatamento, mesmo com a redução recente nas taxas. “Mais de 85% dos incêndios são causados por humanos. Com o desmatamento caindo, o crime organizado está usando o fogo para abrir novas áreas”, afirmou.
Para Nobre, a saída passa por uma transição urgente para uma economia baseada na sociobiodiversidade. Ele defende o uso sustentável dos recursos da Amazônia como alternativa real de desenvolvimento: “O Brasil tem a maior biodiversidade do planeta, mas só 0,4% do PIB vem disso. É hora de transformar essa riqueza em valor econômico e social”.
Um exemplo positivo citado por ele é o programa Arco da Restauração, lançado pelo governo brasileiro na COP28, que prevê a recuperação de 240 mil km² no sul da Amazônia com apoio a comunidades locais. Segundo Nobre, “hoje, quem restaura ganha mais do que quem cria gado ou planta soja”, por conta do valor do mercado de carbono.
Mas ele também faz um alerta direto ao setor produtivo. “O agronegócio ainda é o setor mais negacionista sobre a mudança climática. Mas se continuar assim, ele mesmo vai ser muito prejudicado”, critica.
Com a realização da COP30 em Belém, em 2025, Nobre vê uma chance para o Brasil assumir protagonismo: “Que essa COP seja o momento em que o mundo diga: vamos zerar emissões até 2040. A hora é agora”.
E conclui, sem rodeios: “Tivemos seis extinções em massa, todas por causas naturais. Essa seria a primeira provocada por uma única espécie. Nós.”
Fonte: Diário do Rio