O que as pesquisas não dizem
Por Douglas da Mata
Nenhum político ou aspirante a político despreza, nos dias de hoje, duas ferramentas: as pesquisas e as análises de psicometria de dados, oferecida pelas redes sociais como indicadores de tendências de comportamento do eleitor/consumidor.
São instrumentos eficazes, porém, todos sabemos, não são absolutos.
Hoje foi divulgada a mais recente pesquisa de intenções de votos para governador do Estado do Rio de Janeiro.
Aqui: https://agendadopoder.com.br/pesquisa-gerp-eduardo-paes-lidera-com-folga-disputa-pelo-governo-do-rio-e-deixa-rivais-para-tras/
É a primeira depois das turbulências enfrentadas por dois dos pré-candidatos no chamado campo bolsonarista, leia-se Washington Reis e Rodrigo Bacellar.
A sondagem diz o óbvio…ou seja, 81% dos entrevistados não sabem em quem votar, ou SE irão votar em alguém.
Disse também que o favorito é Eduardo Paes, que luta para afastar a síndrome de Celso Russomanno.
Para quem não conhece o personagem e a trajetória, Celso é um repórter que ficou famoso por atuar em programas na TV, do tipo Reclame Aqui, e que em toda eleição paulista é favorito, mas nunca vence.
Celso Russomanno se consolidou como o maior cavalo paraguaio da história política paulista e nacional.
Paes quer evitar a todo custo tornar-se a versão fluminense do paulista.
Os números de Paes parecem consolidados.
Muitos analistas torcem o nariz para as perguntas espontâneas, ou dão a ela pouco peso, quando comparadas com os dados estimulados.
Alegam que é o cenário real (estimulado), a partir de escolhas já postas, que é mais crível.
Eu acho que devemos mitigar esses aspectos, e mais, em uma pesquisa feita com tamanha distância do pleito, é tão importante ler o que ela diz, quanto o que ela não diz.
Espontaneamente, 81% dos entrevistados disse que não sabe em quem votar.
Correções matemáticas feitas, é como se 8 em cada 10 eleitores não tenham se decidido, ou se decidiram a não votar em ninguém, ou pior, sequer sair de casa para o compromisso eleitoral.
A história recente tem mostrado que desses 8 eleitores em 10, de 2 a 3, ou um pouco mais, não votam em ninguém ou não vão às urnas.
Então, a pesquisa não diz que o universo de votos em disputa é muito menor que o imaginado.
Bem, nesse universo mais apertado a vantagem pende para quem está na frente, certo?
Nem sempre.
Aqui entra o fator que se não é o principal, se configura como um dos principais nas análises de especialistas.
A rejeição.
Em um cenário político ainda conturbado por diversas instabilidades institucionais, protagonismo judicial, e outros incidentes, além da óbvia fragmentação causada pela overdose de redes sociais, tudo indica que ser o preferido em intenções de voto não basta para ser bem sucedido.
A repulsa do eleitor, que pode passar de mera implicância reversível para uma ojeriza cristalizada, é fundamental para definir rumos.
Nesse sentido, é impressionante que os candidatos Washington Reis e Rodrigo Bacellar tenham índices tão altos de rejeição aos seus nomes, 25% e 18%, respectivamente, enquanto suas intenções de voto patinam entre 6% para Rodrigo e 4% para Reis.
Ambos têm de 3 a 4 vezes mais rejeições que as intenções de votos.
Eduardo Paes cravou 19% de repulsa, o que é um índice também relevante, algo em torno de 40% de suas intenções.
Olhando esses dados, fica a dúvida:
É possível que Washington Reis e Bacellar se tornem mais rejeitados, à medida que forem mais conhecidos?
Eu arriscaria dizer que sim, mesmo sem saber como esses nomes evoluíram nas pesquisas passadas.
Outra dúvida, o mesmo pode acontecer com Paes, ou seja, à medida que seu nome é mais exposto, ele pode se tornar mais rejeitado?
Com a ressalva que cada eleição é uma eleição diferente, essa tendência é recorrente em Paes, ainda mais se avaliarmos o percentual em disputa, ou seja, os votos em aberto, já descontados dos 81% de indecisos os 25% a 30% de votos inválidos (brancos, nulos e abstenções).
Olhando como amador que sou, eu projetaria que o eleitorado fluminense, em parte, já sedimentou um nome, talvez por inércia de repetição, já que Eduardo Paes é candidato a governador pela terceira ou quarta vez.
Porém, o eleitor não disse na pesquisa, até porque não lhe foi perguntado (truque comum nas sondagens, o viés), mas pode sinalizar que não quer nenhum dos nomes disponíveis.
Nem coloquei Wilson Witzel nessas ponderações, apesar dele estar na pesquisa…acho que ninguém leva aquele senhor a sério.
Talvez o que a pesquisa não tenha dito é que há espaço para novidades no cenário fluminense.