Humildade, prevenção e caldo de galinha não fazem mal a ninguém
Por Douglas da Mata
Não é novidade o abismo ideológico entre mim e o vice-prefeito da cidade de Campos dos Goytacazes.
Pessoalmente, eu o considero uma pessoa afável, e tenho lembranças do nosso tempo de Liceu de Humanidades, nos idos de 80 do século passado (estranho falar isso, não, parece que temos 100 anos?).
No espectro político ele representa, no meu entender, um dos setores mais atrasados da economia, e que não raro, repercute no mundo político com as agendas tenebrosas do pior conservadorismo.
O problema não é só a herança escravocrata, o forno da ditadura, etc, mas a insistência em simbolizar essa violência política encarnada.
É verdade que Frederico Paes não parece ser, no trato pessoal, um ogro, mas o seu local de fala política é esse, o conservadorismo neanderthal dos latifundiários.
Pois bem, o vice-prefeito tem grandes chances de virar prefeito em 2026, caso se confirmem os prognósticos de renúncia do seu mandatário, Wladimir Garotinho, para concorrer a algum cargo majoritário.
Mesmo que o atual prefeito concorra a deputado federal, dado o favoritismo óbvio é grande a chance de Frederico Paes “sentar a cadeira” , e como ele mesmo diria, de acordo com os informes dos corredores palacianos, “vai ter uma caneta com tinta”.
A história recente do Brasil é recheada de reviravoltas onde o vice, senão conspirou abertamente, como Michel Temer, ao menos foi agraciado com mandatos para os quais tinham poucas chances de se elegerem.
Sarney, Itamar Franco, o já citado Temer, Cláudio Castro, ou por aqui, com Arnaldo Vianna, no seu primeiro mandato, e etc.
Exemplos de atalhos para o poder.
Em Campos dos Goytacazes há um risco iminente no cenário.
A antecipação da transição de 2026, que pode levar a um vácuo de poder, ou pior, a um conflito aberto pelas duas partes interessadas, Wladimir e Frederico, que até agora demonstram certa sinergia.
O episódio recente, quando um líder dos latifundiários da cidade disse cobras e lagartos sobre a gestão financeiro-orçamentária da atual administração, inclusive paralisando os serviços prestados pelo convênio ASFLUCAN/PMCG, onde o vice-prefeito é parte importante e representativa desse setor, revela sinais desse descompasso.
Claro que o líder canavieiro não deve obediência ao vice-prefeito, nem pede autorização para falar, mas parece sintomático o que não foi dito, neste caso, pelo silêncio e inércia do vice-prefeito, que deveria desagravar, de imediato o seu chefe, o prefeito, e depois, se possível, tentar mediar a situação.
Nada.
Silêncio sepulcral cheio de significados.
Entendo a pressa, ou melhor, a ansiedade de Frederico Paes para “sentar a cadeira”, o que seria um feito histórico, um retorno desse setor arcaico, anacrônico e ineficiente da economia local, que, por exemplo, ainda queima cana, mas que tem uma auto imagem de que são indispensáveis à cidade, e portanto, injustiçados.
Um tipo de delírio senil de grandeza, soterrado pela obsolescência política e decadência econômica.
Na cabeça dessa categoria, Campos dos Goytacazes lhes deve alguma coisa, reconhecimento ou homenagens, ou, como agora, uma redenção política.
Porém, ainda que eu entenda esse sentimento de urgência, não é demais lembrar ao vice, que pode virar prefeito, que o seu mandato 2026/2028, e até sua intenção de reeleição, dependerá de um equilíbrio com uma Câmara de Vereadores que terá um presidente que é, digamos, frequentador da sala de estar e cozinha do atual prefeito.
Outro dado, dependendo do resultado de 2026, não será difícil a um Wladimir senador, ou vice-governador, ou até deputado federal, controlar as variáveis locais.
Ou seja, pato novo não dá mergulho fundo.
Como disse lá em cima, cuidado e humildade, porque apressado come cru e quente.