Furna da Onça: investigação indica que deputados compravam votos com água
O esquema de corrupção dentro da Alerj revelado na semana passada na operação Furna da Onça não usava só o Detran como fonte de apoio político, segundo investigadores. Gravações feitas com autorização da Justiça pelo Ministério Público Federal mostram que os deputados compravam votos com água.
Segundo a investigação, carros-pipa da Cedae eram usados como moeda de troca em campanhas eleitorais.
Segundo o MPF, a Cedae, estava a serviço dos parlamentares a medida em que eles controlavam o envio de caminhões pipa para seus redutos eleitorais.
Numa das conversas, o deputado Luis Martins, do PDT, e que também está preso, é alertado que a água enviada para Austin, em Nova Iguaçu, estava indo para outro candidato.
Interlocutor: É não, Luiz, vou te falar a verdade, uma coisa é certa, tão prejudicando você aqui em Austin, tá?
Luiz Martins: Por que?
Interlocutor: A Cedae, tá?
Luiz Martins: Aham.
Interlocutor: Pode estar ciente disso, tá? Estão mandando pro outro candidato é dois, três caminhão por semana.
Luiz Martins: Que candidato?
Interlocutor: Vem pra mim, o André Siciliano, pô.
Outros diálogos
As conversas telefônicas mostram ainda que os deputados e assessores gastavam muito tempo com negociações que não tinham nada a ver com o trabalho dos parlamentares.
Num dos diálogos, o deputado Marcos Abrahão, do Avante, um dos presos na última quinta-feira (8), se irrita ao saber que o assessor dele usou o carro oficial para transportar uma “encomenda”.
Abrahão: Qual carro você tá?
Assessor: No carro preto.
Abrahão: Você não vai botar isso dentro do meu carro de ALERJ!
Assessor: Pode não?
Abrahão: Rapaz, vocês fazem as coisas sem falar comigo, rapaz. Eu não tô entendendo a de vocês.
Assessor: Ué, não pode, não levo, tio. Não sabia.
Abrahão: Cê tá aonde?
Assessor: Eu tô aqui em Manilha.
Abrahão: Caralho.
Assessor: Não. Não pode, não levo, oh tio. Não pode, não levo.
Abrahão: Enfia essa porra dentro de saco preto.
Assessor: Tá no saco preto.
Os investigadores suspeitam que o conteúdo do saco preto era dinheiro.
Em outra gravação, a esposa do deputado Marcos Abrahão se refere supostamente à Alerj de uma maneira não muito republicana.
Eucimar Abrahão – Já saiu daí?
Assessora – Já. Saiu ele, Monteiro e acho que Galdino.
Eucimar- Ah tá. Então eles foram onde tinha que ir, né?
Assessora – Isso, Aham. Naquele lugar.
Eucimar – Então tá bom.
Assessora- Tá bom
Eucimar – Na casa das primas.
Assessora – (risos) Isso aí, lá no Rio.
Para a esposa do deputado, “casa das primas” é a casa do povo, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Outro lado
A Cedae disse que o MPF não imputou nenhum crime a empregados da empresa.
O deputado André Ceciliano disse que desconhece totalmente o assunto e que a conversa envolvendo seu nome não tem qualquer fundamento.
A assessoria do deputado Marcos Abrahão preferiu não se pronunciar. O RJTV não conseguiu contato com a assessoria do deputado Luiz Martins.
Fonte: G1
