Com vaga no TCE prestes a abrir, vice de Castro já cogita acordo que facilitaria candidatura de Bacellar em 2026

Por Bernardo Mello e Caio Sartori, do O Globo
Pedra no sapato da candidatura do presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Rodrigo Bacellar (União), ao governo do estado, o vice-governador Thiago Pampolha (MDB), também interessado em disputar o Palácio Guanabara, já cogita chegar a um acordo que, na prática, abriria espaço ao chefe da Alerj. Aliados do governador Cláudio Castro (PL) intensificaram nas últimas semanas negociações para que Pampolha aceite uma vaga que será aberta no Tribunal de Contas do Estado (TCE), antes descartada por ele, e outros espaços de poder na gestão estadual.
A vaga de José Maurício de Lima Nolasco abre no dia 19, quando o conselheiro se aposenta compulsoriamente por completar 75 anos. Nolasco ocupa uma das cadeiras do tribunal preenchidas por indicação do governador. Pampolha, de 38 anos, era irredutível até pouco tempo quanto à possibilidade de ir para o TCE, que encerraria de forma precoce sua vida político-eleitoral. Ao GLOBO, em abril, o vice-governador disse que o cargo “nem passava pela cabeça”. Agora, no entanto, admite que está avaliando.
— Todo mundo sabe do meu sonho de ser candidato a governador, mas ainda não tomei uma decisão. Estou avaliando todos os cenários — diz o vice-governador.
Bacellar não esconde de ninguém que, para se considerar forte numa eleição contra a provável candidatura do prefeito Eduardo Paes (PSD), hoje o único pré-candidato conhecido pelo eleitorado, precisaria sentar com antecedência na cadeira de governador.
Com Pampolha em cena, o sonho seria ceifado. Sem ele, o presidente da Alerj tentaria convencer Castro a deixar o governo meses antes do prazo máximo, que é abril do ano eleitoral. No cenário ideal, segundo interlocutores, Bacellar viraria o ano como governador — algo que o atual mandatário reluta — e pegaria carona na visibilidade de eventos como o réveillon e o carnaval.
Apesar do envolvimento em prol da vaga para Pampolha, portanto, Castro ainda tem pé atrás com o gesto, segundo observadores, porque a saída do vice acabaria com uma espécie de “escudo” na relação com Bacellar. Com Pampolha fora, o presidente da Alerj pressionaria ainda mais pela entrega precoce do governo.
Pampolha, por sua vez, argumenta sempre que tem a prerrogativa de encarar a eleição, já que Castro deve largar o cargo para disputar o Senado. Como vice, entraria naturalmente na linha sucessória e poderia tentar a reeleição com a máquina em mãos.
Os principais partidos que sustentam o governo, contudo, já estão mais alinhados com o projeto de Bacellar, e o emedebista correria o risco de se isolar no jogo, a despeito de estar na cadeira. O presidente da Alerj fez, inclusive, o processo de “beijar a mão” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem até andou de barco em Angra dos Reis na Quarta-feira de Cinzas. Como o PL prioriza eleger o máximo possível de senadores, o partido não faz questão de encabeçar a chapa de governador.
A aliados, Pampolha tem dito que passou a repensar cenários “por questão de sobrevivência”, já que a viabilidade de uma candidatura ao governo depende de alianças partidárias que, por ora, não se concretizaram. O vice-governador, que não deseja concorrer ao Legislativo, também tem ressalvas ao cargo no TCE e se ressente de ter sido apeado por Castro, há mais de um ano, da Secretaria de Meio Ambiente. Para compensá-lo, e por pressão de Bacellar, Castro colocou na mesa a possibilidade de abrir espaços a Pampolha em órgãos como a Cedae, empresa de água e esgoto que sempre desperta o interesse da classe política.
Depois de um giro pela Ásia, Castro viajou na semana passada para Nova York, de onde volta no dia 17. Após a chegada no Rio, tende a conversar com o vice a fim de tentar chegar a uma solução para o impasse. Pouco antes de viajar para os Estados Unidos, eles chegaram a ter uma reunião, da qual Bacellar também participou, mas o martelo não foi batido.
Vaga prometida
A hesitação do governador também se explica pelo fato de que a vaga de Nolasco foi prometida por Castro a seu chefe de gabinete — e principal estrategista político —, Rodrigo Abel. Caso Pampolha entre no TCE neste posto, as próximas duas vagas no horizonte, dos conselheiros José Gomes Graciosa e Marco Antônio Alencar, só abrem em 2030 e 2031, e perigam não ser preenchidas sequer no próximo mandato. Além disso, ambas as vagas são de indicação da Alerj, e não do governador.
Fonte: O Globo
