Celular de chefe da segurança de Rogério Andrade pode ajudar bicheiro a sair da cadeia
Um laudo técnico do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) pode mudar os rumos do processo que mantém preso, há quase um ano, o bicheiro Rogério Andrade, apontado pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) como mandante do assassinato de Fernando Iggnácio, ocorrido em 2020. Segundo o jornal a jornalista Vera Araújo, de O Globo, o documento elaborado por um perito da Polícia Civil levanta dúvidas sobre a integridade e autenticidade de mensagens extraídas do celular do chefe de segurança de Andrade, que são apontadas como principal prova contra o contraventor.
O material analisado corresponde a um HD externo e 16 CDs com dados obtidos da nuvem de Márcio Araújo, sargento da reserva e segurança pessoal de Rogério Andrade. É nesse conjunto que aparece o registro de uma mensagem enviada por um perfil identificado como “capitanJacks” — supostamente usado por Rogério — em que se lê: “Cabeludo é o que interessa!”, numa aparente referência codificada a Iggnácio, segundo a interpretação do Gaeco/MPRJ.
O problema é que, segundo o perito Vinicius Trindade, não foi possível garantir a fidedignidade dos arquivos, já que não houve apresentação da cadeia completa de custódia — o que, em termos técnicos, significa que não se sabe com precisão quem acessou os dados, como foram armazenados e transportados ou se sofreram alterações.
A análise foi anexada no último dia 17 aos autos da ação penal contra Márcio Araújo, mas a defesa de Rogério Andrade estuda pedir o uso do documento como prova emprestada, a fim de reforçar o pedido de relaxamento da prisão preventiva do bicheiro. Os advogados já haviam interrompido a audiência de instrução e julgamento em junho, justamente alegando a ausência do laudo do ICCE nos autos do processo de Rogério.
O Ministério Público estadual ainda deve se manifestar formalmente sobre o caso nesta terça-feira (5). Enquanto isso, Rogério permanece na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), submetido ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), enquanto seu segurança responde ao processo em liberdade.
Embora o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheça que falhas na cadeia de custódia podem levar à anulação de provas, essa decisão não é automática. Cabe ao Judiciário avaliar se houve prejuízo concreto à defesa. O pedido de liberdade de Rogério Andrade ainda está pendente de apreciação.
A investigação que levou à prisão de Andrade foi deflagrada em 2024, quando o Gaeco passou a reexaminar o assassinato de Fernando Iggnácio, motivado por uma antiga disputa entre facções do jogo do bicho e pela herança do bicheiro Castor de Andrade, morto em 1997. Além de Rogério e Araújo, outros quatro policiais militares foram denunciados. Um deles morreu no decorrer do processo.
A decisão agora está nas mãos da Justiça: o laudo técnico poderá ou não abrir as portas da prisão para Rogério Andrade — um dos nomes mais conhecidos do submundo do jogo ilegal no Rio de Janeiro.