Plano de Claudio Castro deve fazer Rio eleger governador-tampão no início de 2026

O governador Cláudio Castro (PL) planeja se desincompatibilizar do cargo depois do Carnaval, na segunda quinzena de fevereiro, para disputar uma vaga no Senado na eleição de 2026. A decisão vem sendo amadurecida há algumas semanas e foi relatada à equipe do blog da Malu Gaspar por aliados com quem ele vem discutindo o cenário eleitoral no estado.
O governador tem dito a esses interlocutores que não há necessidade de ficar no cargo até o final do prazo legal para a desincompatibilização, que é abril de 2026, e que o melhor seria poder se desligar o quanto antes para mergulhar na campanha. Ele aproveitaria a exposição pública do Carnaval para faturar junto ao eleitorado e depois cairia na estrada.
Tudo vai depender, porém, do quadro político-jurídico-policial do Rio de Janeiro. E, ainda, de como caminharem as articulações para que Castro coloque em seu lugar um homem de confiança: Nicola Miccione, que hoje é secretário da Casa Civil.
Isso porque o Rio vive uma situação bastante atípica. Parte da linha sucessória simplesmente deixou de existir. O vice governador, Thiago Pampolha, renunciou em maio para assumir uma vaga no TCE em meio a desentendimentos com Castro. E o presidente da Assembleia (Alerj), Rodrigo Bacellar, foi preso pela PF e depois solto com tornozeleira eletrônica, embora continue deputado está afastado do comando do Legislativo estadual.
A Constituição do Rio diz que, se o governo ficar vago a partir da segunda metade do mandato, quem assume é o presidente do Tribunal de Justiça, hoje o desembargador Ricardo Couto de Castro, que tem trinta dias para realizar eleições indiretas.
Na interpretação dos aliados do governador, em caso de vacância do cargo, o novo presidente da Alerj, Guilherme Delaroli (PL), não poderia assumir porque é interino.
A prevalecer esse entendimento, o que por ora parece estar ocorrendo, a escolha do novo chefe do governo será feita pela própria Alerj em eleição indireta – aí qualquer cidadão pode ser candidato e não apenas os deputados estaduais.
O governador já começou a fazer campanha por Miccione nos bastidores. Ele vem defendendo que, por não ter ambições políticas, seu homem de confiança poderia ter o apoio de mais correntes políticas e ficar no governo até o fim. Vários aliados já foram procurados pelo governador para discutir essa proposta.
Para Miccione assumir, porém, é preciso que toda essa articulação esteja bem azeitada. Um dos maiores beneficiados por ela — além do próprio Castro, que continuaria controlando o Palácio da Guanabara de forma indireta – seria o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que é candidato ao governo em 2026.
Sem um concorrente direto no comando da máquina, Paes ganharia fôlego para tentar ampliar apoios especialmente onde costuma ser mais frágil eleitoralmente, na Baixada Fluminense e no interior do estado.
Outra alternativa para Castro, bem menos cotada mas ainda sobre a mesa, seria renunciar para disputar as eleições. Quem defende essa possibilidade está de olho na situação do governador no TSE, onde ele enfrenta um processo de cassação junto com Bacellar por abuso de poder político e econômico no chamado “escândalo do Ceperj”.
No caso, revelado pelo UOL em 2022, descobriu-se a existência de uma “folha de pagamento secreta” do governo do Rio, com 45 mil pessoas nomeadas para cargos temporários no próprio Ceperj e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), incluindo aliados e cabos eleitorais do governador.
A situação de Castro, que já foi bem crítica no tribunal eleitoral, chegou a melhorar depois das operações policiais contra o tráfico no complexo do Alemão. Com a popularidade do governador em alta, os ministros do TSE acabaram aderindo a uma costura política pela qual um deles, Antonio Carlos Ferreira, pediu vista, adiando a conclusão do processo.
Uma ala próxima ao governador defende que, como Bacelar já está na mira da justiça e chegou a ter até o mandato cassado, a renúncia de Castro poderia levar o processo a perder seu objeto e a ser extinto.
Tudo porque, depois que Bacellar foi preso por vazar informações sobre a operação da PF que prendeu o deputado estadual TH Joias por envolvimento com o Comando Vermelho, mesmo os ministros que poderiam votar por uma absolvição ficaram sem condição de fazê-lo.
A questão é que a maior parte dos aliados do governador no meio jurídico avalia que a renúncia afastaria o risco de cassação mas não o da inelegibilidade, que ainda poderia ocorrer.
Por isso, hoje o plano A de Castro é fazer lobby em Brasília para tentar garantir que mais ministros peçam vista do processo no TSE de forma a adiá-lo indefinidamente, e se desincompatibilizar o quanto antes para largar na frente na corrida pelo Senado.
É para isso que Castro trabalha um dia sim e outro também.
Com informações do blog da Malu Gaspar, do O Globo.



