Washington Reis e Carlos Portinho desafiam Castro e Bacellar e embolam corrida ao Senado e Governo na direita do Rio
Por Thiago Prado na newsletter Jogo Político
O governador Cláudio Castro (PL) resolveu a questão envolvendo o seu ex-vice Thiago Pampolha (MDB), agora conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e fora do caminho da candidatura de Rodrigo Bacellar (União Brasil) ao Palácio Guanabara. Há, no entanto, outros dois problemas ainda mais espinhosos para serem solucionados sobre as eleições de 2026.
O primeiro deles: Castro sinaliza querer ser candidato ao Senado no ano que vem quando duas vagas estarão em disputa, mas os atuais ocupantes dos cargos (Flávio Bolsonaro e Carlos Portinho) também desejam os postos novamente. Como Flávio tem a posição garantida por ser filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, resta a disputa dentro do PL entre Castro e Portinho, o suplente que virou senador após a morte de Arolde de Oliveira em 2020.
Nos últimos meses, Portinho fez claros movimentos de aproximação com setores da direita ao atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) de maneira mais contundente em discursos.
— Tenho conversado muito com Bolsonaro e vamos ver o que ele vai decidir. Sou pré-candidato ao Senado e, se o Cláudio também quiser ser, alguém vai ter que deixar o PL. Fui eleito o melhor senador do Brasil no Ranking dos Políticos e não está no meu horizonte ser candidato a deputado. Como diz o Romário, estou sentado na janela. Além disso, estou disposto a concorrer e correr o risco de perder. O Cláudio também está disposto a isso? — desafia Portinho, para depois dar declarações em sintonia com o deputado federal Carlos Jordy, que na segunda feira, acusou Castro em O GLOBO de ser “próximo do STF”. — Eu assinei todos os pedidos de impeachment do Alexandre de Moraes. Essa, de fato, é uma questão a ser respondida pelo Cláudio. Ele vai ser a favor?
Cobrado pelo bolsonarismo por uma postura mais agressiva contra o STF, Castro tem uma série de assuntos do seu interesse tramitando em instâncias superiores. O governo do estado está mantido no Regime de Recuperação Fiscal desde dezembro graças a uma decisão do ministro Dias Toffoli. Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai julgar ainda este ano o recurso do Ministério Público Eleitoral da absolvição de Castro no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) no caso Ceperj. Em 2022, as investigações apontaram que a estrutura da fundação foi usada para a contratação de cabos eleitorais para a campanha do governador.
O segundo nó a ser desatado por Castro tem nome e sobrenome: Washington Reis, ex-prefeito de Duque de Caxias e secretário estadual de Transportes. Uma cena inusitada no telejornal RJTV desta semana expôs o descompasso entre o governador e o popular político da Baixada Fluminense.
O jornalista Edmilson Ávilla anunciou ao vivo que haveria redução nos preços das passagens do trem e do metrô para R$ 4,70 a partir de informações dadas por Reis, mas teve que voltar atrás no ar minutos depois. Castro lhe telefonou dizendo que a medida não seria tomada pelo governo. O secretário dobrou a aposta, recebeu uma equipe de reportagem da TV Globo em seu gabinete e jogou a bola de novo no colo do Palácio Guanabara ao dizer que “conhece o governador e que ele sabe que a tarifa do Rio é a mais cara do Brasil”. Ou seja, colocou Castro no impopular papel de político contra a redução das passagens no transporte público.
Há mais movimentos recentes de Reis incomodando o Palácio Guanabara. No fim do mês passado, ele posou para uma fotografia com os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho, rivais da dupla Castro e Bacellar. O casal de Campos dos Goytacazes defende que o ex-prefeito seja candidato a governador no ano que vem caso consiga reverter a sua inegibilidade em Brasília. O seu caso está parado no STF pelo placar de 3 a 1 contra Reis após uma condenação em segunda instância na segunda turma da Corte por crime ambiental.
Com necessidade de ter aliados fora da capital, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), cotado para se candidatar a governador em 2026, vem dizendo nos bastidores que fará o que for possível para ajudar Reis na reversão da sua pena no Supremo. Para isso, acena com uma vaga na sua chapa para o Senado, que já tem o ex-deputado federal Alessandro Molon como especulado. Com as também anunciadas pré-candidaturas dos deputados federais evangélicos Otoni de Paula (PRTB) e Marcelo Crivella (Republicanos), o ex-governador Sérgio Cabral, consultor de Bacellar, vem dizendo a aliados que talvez seja melhor Castro vir candidato a deputado federal no ano que vem diante de tanta concorrência.
Procurado para falar sobre 2026, Washington Reis riu e desconversou.
— Minha família me fez prometer que eu não falaria de eleições em ano ímpar. Tudo o que eu disser pode ser usado contra mim nos tribunais.
Ao responder sobre Bacellar, o candidato que Castro já anunciou que quer apoiar no ano que vem, ironizou:
— Bacelar é candidato mesmo? Não to sabendo disso não. Acho que ele vai ter que falar mais alto isso porque lá em Xerém, minha terra, essa informação não chegou ainda não.
Fonte: O Globo