12/12/2025
Região

Macaé gasta mais de R$ 23,6 milhões com Natal

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Valor supera cidades maiores e acende alerta sobre transparência e economicidade

Há gastos públicos que se explicam. Outros, que se justificam. E há aqueles que simplesmente desafiam qualquer lógica de responsabilidade fiscal, como o Natal 2025 de Macaé. Com R$ 23,6 milhões empenhados em um pacote de luzes, shows, estruturas flutuantes, pista de gelo e atrações infantis — todos alugados — o município conseguiu gastar mais do que cidades maiores e economicamente mais robustas e que, ainda assim, entraram na mira no Ministério Público.

Com mais de meio milhão de habitantes, Niterói investiu pouco mais de R$ 17,5 milhões, o que representa um gasto médio de R$ 33,86 por pessoa. Em Itaguaí, que possui 123.980 moradores e onde cerca de R$ 3,9 milhões seriam destinados à decoração natalina, representando um gasto de R$ 31,46 por pessoa, o Ministério Público recomendou a suspensão da licitação. Macaé, com 264.439 moradores, ultrapassou essas marcas com folga: R$ 89,24 por habitante, um dos valores mais altos da história recente para festividades natalinas no Brasil.

A Câmara de Vereadores de Macaé realizou sua própria contratação natalina, no valor de R$ 238.900, para iluminação e ornamentação de suas dependências e do Centro Cultural do Legislativo. O contrato também envolve apenas locação de itens.

Apesar do alto custo, Macaé não contará com um legado estrutural, cultural ou turístico duradouro, já que toda a ornamentação — da árvore flutuante de 39 metros ao carrossel, passando pela pista de gelo e pelas 5.000 decorações de árvores naturais — será desmontada, recolhida e devolvida ao final das festividades.

O discurso oficial costuma citar o “fomento ao turismo” e “movimentação econômica”, mas o que se vê é uma cadeia de empresas especializadas em eventos sendo contratadas a valores que superam — e muito — a média estadual.
O cenário contrasta com o discurso de contenção de despesas adotado por administrações municipais em diversas partes do país em 2025 e revela uma política de gastos exuberantes e nada transparentes, com pregões separados, contratos paralelos, valores distribuídos por diversas secretarias e uma estratégia que fragmenta despesas.

Natal de aluguel

Documentos indicam que Macaé realizou duas grandes licitações separadas, ambas voltadas exclusivamente à estrutura natalina. O pregão eletrônico nº 091/2025 — “Águas Dançantes”, no valor de R$ 11.364.784, inclui jatos de água, estruturas flutuantes, painéis de LED, lasers, máquinas de fogo, pirotecnia, balsas, containers, luz cênica e embarcações. Tudo sob regime de locação — ou seja, nenhum equipamento é adquirido pelo município.

Já o pregão Eletrônico nº 093/2025 — Decoração de Natal, no valor de R$ 11.182.822, envolve a contratação de árvores flutuantes de até 39 metros, esculturas natalinas em grande escala, pista de gelo, casas temáticas, personagens, trem cenográfico, carrossel, luz cênica e 5.000 ornamentações de árvores naturais. Também integralmente em regime de locação.

Além dos pregões principais, há registros de valores espalhados em outras pastas, como buffet, apoio logístico e insumos, o que compromete a transparência total do gasto.

O município ainda pagará R$ 300 mil por um show natalino inspirado na Disney; R$ 180 mil pelo “Mundo Bita – Especial de Natal”; R$ 90 mil para apresentações da cantora Kynnie Williams; R$ 66 mil para o Show da Luna e dezenas de outras contratações, muitas por dispensa de licitação, compondo R$ 987 mil somente em apresentações artísticas, além de camarim de R$ 52.410 e o Auto de Natal, ao custo de R$ 57.400. A soma final ultrapassa R$ 1 milhão em extras, adicionados aos custos principais.

Falta de transparência

Especialistas em administração pública destacam que o uso de pregões separados, somado à característica de aluguel de praticamente todos os itens, encarece a operação e dificulta a rastreabilidade integral dos valores.

Chamam atenção ainda informações obtidas sobre a empresa responsável pela pista de gelo e parte significativa da cenografia, que mantém dois galpões no município, além de histórico de atuação em eventos locais. O volume de itens alugados — alguns de alto valor unitário e baixa complexidade — sugere que parte da estrutura pode estar sendo contratada por valores acima da média de mercado.

O município de Macaé enfrenta desafios complexos e urgentes, como a saúde que pede reforço, infraestrutura que necessita de melhorias, bairros que carecem de investimentos permanentes, mas opta por investir R$ 23,6 milhões em estruturas descartáveis, luzes temporárias e espetáculos importados.

Tribuna NF abre espaço para manifestação dos citados ([email protected]).

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