Wladimir Garotinho indicado ao Oscar
Por Douglas da Mata
A “atuação” recente do prefeito de Campos dos Goytacazes o coloca como futuro candidato ao prêmio da academia.
Podemos escolher, melhor roteiro, melhor direção e sim, melhor ator.
Poderíamos dizer que o roteiro escrito está (ou não) próximo a uma reviravolta, ou “plot twist”, como denominam os mais modernos.
Um dos grandes problemas da crítica de cinema e da crônica política, mais ou menos especializadas, é tentar adivinhar ou descrever o que o roteirista ou o diretor pretendiam com sua obra.
Quase sempre as tentativas são em vão, e às vezes, os diretores e escritores zombam dessa pretensão dos críticos, assim como os líderes políticos ludibriam os cronistas.
É o que faz Wladimir Garotinho.
O roteiro ele escreveu e ele mesmo dirige sua atuação.
Há muito ele sabia que o mero anúncio de seu desejo de concorrer a outro cargo em 2026 desencadearia “uma corrida do ouro” ou sendo mais dramático, uma excitação dos tubarões com os quais nada desde 2021.
Os predadores sentem de longe o cheiro de sangue na água, isto é, um governo cujo líder diz que sairá, com data definida, tende ao enfraquecimento.
É a síndrome do cafezinho frio, quando a bebida servida no gabinete do chefe do executivo chega fria.
O que ninguém conseguiu entender que toda essa narrativa pode ser uma distração ou pior, uma isca para testar lealdades.
É um enredo conhecido, mas que sempre atrai os incautos e os ambiciosos em excesso.
Não à toa, talvez observando o prefeito campista, o governador Cláudio Castro fez um movimento semelhante, e disse que vai não vai e pode acabar “fondo”.
Seja lá como for, aqui na planície goytacá, Wladimir Garotinho vai conduzindo seu “filme” como lhe convém, confundindo aliados, irritando adversários.
O prefeito diz com gestos exagerados, como um Almodóvar, e se comunica por metáforas, como um cinema novo de Glauber Rocha, e muita gente não entende que é ele quem define o final, feliz para uns, infeliz para outros.
Wladimir já deu título a saga:
Eu ainda estou aqui.