08/07/2025
Política

O PT e as salsichas

Prefeitura de Campos

Por Douglas da Mata

Como disse Otto von Bismarck, não é bom saber como são tomadas as decisões políticas e como são feitas as salsichas.

Porém, há algo pior que usar desse ou daquele artifício para obter resultados.

Aqui vamos falar dos resultados da última eleição interna do PT em Campos dos Goytacazes, com a vitória do professor de História Danilo, com a resposta do perdedor Jefferson, que o acusa de práticas ilícitas.

Como veremos, a grande questão que ronda a esquerda campista é a hipocrisia.

O debate não é se esse ou aquele meio é válido ou abusivo.

A pergunta é: estou em condições de atacar o uso desse método?

Há muito tempo o PT de Campos tem como demarcação de seus campos a relação com a família Garotinho e seus oponentes.

Aliás, dada a hegemonia desse grupo, por tanto tempo, com raríssimos hiatos, esse dilema de ser contra ou a favor da família Garotinho orientou a política local nos últimos 35 anos.

Já estiveram juntos PT e Garotinho em 1989, mesmo contra a decisão partidária que determinou a candidatura própria de Luiz Antônio Magalhães, romperam com o então prefeito Garotinho, voltaram e integraram o governo Arnaldo Vianna (eu incluído) na campanha de 1998, por ordem da campanha de Lula, quando foi desprezada a convenção estadual, que determinou candidatura própria, romperam de novo, se uniram a Paulo Feijó, então desafeto, a Mocaiber, idem, e recentemente, aos Bacellar.

Não há nada demais nisso, é o jogo.

Apesar de ser uma lástima essa condição de rabo de baleia, quando era melhor ser cabeça de piaba, o fato é que com a paulistização do PT, em torno do imperador Lula e suas candidaturas, quando a disputa política pelo controle de parlamentos e municípios foi toda achatada, em nome da campanha presidencial, o PT de todo Brasil, e principalmente do Rio e de forma mais trágica, do interior do Rio, foi anulado, e (aqui) só ficou a questão de ser contra ou a favor os Garotinho nesta cidade.

Com a ascensão de Wladimir Garotinho há, como eu, pessoas que defendem uma aproximação com o prefeito, não por enxergar nele um possível novo convertido ao lulismo.

Nada disso.

É que, diferente de seu pai, o filho parece ter apreço pelo diálogo, demonstra capacidade de alterar rumos, e enfim, opera a política dentro de um campo saudável de incertezas.

Do outro lado, enxergo pessoas que, como Jefferson, Luciano D’Ângelo, José Luiz Vianna, que têm suas razões, requentando mágoas justificadas, talvez, olham o cenário por outro prisma, e defendem a manutenção de uma distância segura de Wladimir Garotinho.

Não vou dizer que novamente Lula pode vir aí e atropelar tudo, juntando Eduardo Paes e PT (já reunidos) com Wladimir em uma chapa, o que empurraria goela a dentro desse grupo uma decisão desfavorável.

Não, não vou fazer o papel do relógio quebrado e marcar a hora certa duas vezes no dia.

O que me preocupa é outra coisa.

É a falta de seriedade em encarar o jogo e ver que determinados atos repercutem além das nossas idiossincrasias.

Nas últimas eleições municipais, houve acusações de que Jefferson estaria a soldo do grupo que se opôs a reeleição do atual prefeito.

Não sou leviano de confirmar essa versão, e nem acho que essa posição pode ser deslegitimada, por tudo que disse aí em cima, ou seja, não sobrou muito campo para o PT de Campos operar, então, estão certos os que quiseram funcionar como linha auxiliar dos Bacellar, e os que enxergavam uma chance de diálogo com Wladimir.

Por mais que ache estranho o silêncio dessas pessoas e das direções partidárias sobre a postura de uma parlamentar estadual que foi para o palanque de uma (suposta?) adversária no primeiro turno, tenho que respeitar essa omissão como um gesto político, uma opção.

O que não dá para entender é esse pessoal chorar a derrota, apontando o dedo para supostos abusos de poder econômico pela outra chapa.

Um interlocutor muito amigo, me disse hoje de manhã, que Jefferson é um pobre coitado, uma pessoa muito frágil.

Pode ser, mas eu lembrei a ele o que pessoas “frágeis” podem fazer, e dei como o exemplo o filme Adolescência, e o menino assassino de Itaperuna.

Tomara que esteja errado, e Jefferson ainda tenha tratamento.

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