Como água e óleo são os Garotinho e os Bacelar
Por Douglas da Mata
Há uma diferença crucial entre as duas grandes forças políticas do interior desse Estado, e talvez do estado inteiro, a saber, os Bacelar e os Garotinho, cada qual representada nos filhos que ocupam a presidência da Alerj e a prefeitura de Campos dos Goytacazes, respectivamente.
Enquanto a família Garotinho sempre foi um grupo dedicado a comandar poderes executivos, tendo ocupado o palácio Guanabara com o patriarca e a matriarca da família, os Bacelar sempre estiveram na condição de oposição, com um breve intervalo no governo Alexandre Mocaiber, quando o patriarca dos Bacelar foi presidente da Câmara Municipal. Porém, dizem os analistas políticos que mesmo naquela condição, o temperamento explosivo e inquieto revelava um relacionamento conturbado com o chefe do executivo de então, e não raro, o aliado parecia opositor.
Esse traço foi transferido ao DNA político do atual presidente da Alerj, e quem observa sua trajetória junto ao governador, de quem é aliado, pode dizer que, às vezes, parece que o deputado é o mais ferrenho opositor do governador. Não tenho dúvidas, ou seja, mesmo quando está na situação, a família Bacelar age como se fosse de oposição.
Não vai aqui uma crítica, mas uma constatação, esse é o estilo, a expertise deles, e claro, há momentos que esse modus operandi funciona, outras vezes, não. As circunstâncias atuais demonstram que o eleitor anda meio cansado de extremos ou de comportamentos muito extravagantes. Vejam o apoio popular à tese da anistia dos presos e condenados pelo 08 de janeiro.
Os efeitos nefastos da gestão de Donald Trump, que age como um demolidor, uma catástrofe natural, também têm afastado o eleitor conservador desse tipo de conduta espalhafatosa e imprevisível. Há outros sinais de que a densidade eleitoral dos que apelam para gestos extremados, ou radicais, de ambos os espectros, direita ou esquerda, estão fadados ao fracasso. Nesse ambiente, o jeito político de Rodrigo tende a sofrer mais.
Em Campos dos Goytacazes a história recente mostra que o grupo Bacelar não avançou muito, seja na eleição para prefeito, seja na Câmara, é certo dizer que saíram menores que e entraram. Falando de forma pragmática, a intensa oposição que o grupo Bacelar fez ao prefeito Wladimir não sugere que uma aliança com ele estivesse na agenda de Rodrigo. Se estava, ele fez de tudo para que acreditássemos no contrário. Certas feridas demoram mais para cicatrizar.
Olhando para frente, com a federação União Progressista, é certo que Rodrigo Bacelar foi o principal beneficiado, já que não há forças políticas estaduais com força para se oporem a ele. O líder do PP, Dr Luizinho está recuado por causa da vinculação de seu nome ao escândalo dos transplantes. Luizinho sabe que qualquer exposição ou movimento mais importante, da parte dele, vai fazer ressurgir a história. Washington Reis está impedido de concorrer por condenação transitada em julgado de órgão colegiado. Por fora, o PL, de Flávio Bolsonaro, já disse que o interesse principal é o senado.
Dizem as más línguas que até Eduardo Paes deseja ter Rodrigo Bacelar como adversário, dada sua fragilidade eleitoral e temperamento. Não podemos esquecer, é verdade, que sem a renúncia de Cláudio Castro, seguida pela renúncia de Thiago Pampolha, nada feito para Rodrigo. Seus aliados juraram ao pé da cruz do Monte Gólgota (Monte Calvário) que Pampolha topou o acerto, por uma vaga no Tribunal de Contas do Estado.
Eu continuo apostando que Castro e Pampolha podem estar acordados sim, mas para dar uma rasteira em Rodrigo. Mas isso é só um pressentimento meu, só isso. O fato é que tanto Rodrigo, quanto Paes necessitam de Wladimir Garotinho. Em uma composição Rodrigo/Wladimir é óbvio que caberia ao prefeito campista um papel diferente do proposto por Eduardo Paes.
Uma chapa interior puro sangue contra Paes tem poucas chances, pois o consenso atual é, talvez apoiado em estudos de pesquisas e curvas de engajamento, que a chapa é capital/interior. Caberia a Wladimir, nesse arranjo com Rodrigo, uma candidatura a deputado ou senador, e sobre essa última possibilidade, há mais pretendentes que vagas. Não me parece que eleição para a Câmara dos Deputados seja o alvo principal de um político em ascensão como Wladimir, da mesma forma que eu não acredito no acordo Castro, Pampolha, Rodrigo, justamente porque não enxergo Pampolha aceitando uma vaga no TCE, um cemitério político para um político de menos de 40 anos.
Então, não se trata apenas de boas intenções ou de bairrismo, mas da amplitude dos projetos políticos que estão em andamento. Para ser pragmático, o histórico de Rodrigo com Wladimir não indica uma boa relação, e isso projeta um futuro de pouca confiança de que acordos serão cumpridos.
Nesse sentido, o caminho “natural” de Wladimir Garotinho é uma candidatura a vice na chapa de Paes. Parece certo que o ciclo dele no PP se exauriu. Se vai migrar para um partido grande, como PSD ou MDB, ou se vai preferir integrar uma estrutura partidária menor, só o tempo dirá. Alguns preferem ser cabeça de mosquito a rabo de elefante. No entanto, é uma escolha pessoal estruturada em análises e projeções de cenário.
Enfim, uma coisa é quase certa: A chance de aliança com Rodrigo Wladimir é como cabeça de bacalhau, até existe, mas é difícil de ver.
