Pressionado a desistir de candidatura, vice de Castro acena tanto ao PT quanto ao PL e ‘joga parado’ de olho em 2026
Possível postulante à sucessão do governador Cláudio Castro (PL) no Rio, o vice Thiago Pampolha (MDB) vem alternando acenos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vistos como “padrinhos” eleitorais de seus dois principais concorrentes no momento. Pampolha, hoje alvo de pressões do Palácio Guanabara para desistir da candidatura, busca se mostrar palatável a diferentes forças políticas, enquanto aguarda movimentos do presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), e do prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD).
Paes deve concorrer ao governo no palanque de Lula, enquanto Bacellar se aproximou de Bolsonaro na tentativa de se cacifar ao governo. Com aval de Castro, o presidente da Alerj tenta convencer o vice-governador a abdicar da linha sucessória antes do ano que vem. O plano de Bacellar é herdar a cadeira antes da eleição — Castro deve deixar o cargo, para se candidatar ao Legislativo em 2026 —, posição vista como mais vantajosa para um embate com Paes.
Pampolha, no entanto, vem rejeitando publicamente as investidas para deixar o governo. A avaliação no entorno do vice é que, diferentemente de seus concorrentes, ele pode “jogar parado” e aguardar as definições dos adversários. As sondagens para convencê-lo a abrir caminho a Bacellar envolvem uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE), que surgirá no próximo mês, e indicações para outros cargos na máquina estadual.
No caso de Bacellar, como a candidatura ao governo ficou condicionada a assumir a cadeira antes da eleição, uma postura irredutível de Pampolha pode não só levar o presidente da Alerj a desistir, como também abrir caminho ao próprio vice para herdar o posto de “candidato de Bolsonaro”.
De olho na possibilidade, Pampolha fez um desagravo a Bolsonaro em fevereiro, após a Procuradoria-Geral da República apresentar denúncia contra o ex-presidente por tentativa de golpe. Na ocasião, Pampolha registrou, em uma rede social, que Bolsonaro merecia um “julgamento justo” e “sem pressões externas ou pré-julgamentos”, para que “a verdade prevaleça acima de qualquer interesse ou narrativa”.
Cerca de um mês depois, o vice-governador voltou a fazer um gesto amistoso nas redes sociais e desejou feliz aniversário a Bolsonaro, “abençoando sua vida, dando saúde, sabedoria e proteção em sua caminhada”. No mesmo período, ele buscou aliados do ex-presidente, como o advogado Fabio Wajngarten e o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), para articular uma aliança do PL com sua eventual candidatura.
Pampolha procura esvaziar a possibilidade de um acordo com Bacellar. Na semana passada, o vice divulgou uma nota criticando “recentes boatos e especulações infundadas sobre uma suposta renúncia”. Ele havia repassado o governo a Bacellar no feriado da Páscoa, quando se licenciou para uma viagem — Castro transmitiu o cargo ao vice na semana anterior, devido a uma missão oficial na Ásia.
“Esse revezamento é parte do funcionamento regular do Estado e não indica, de forma alguma, renúncia, afastamento definitivo ou instabilidade política”, sustentava o texto.
Contraste com castro
Dias antes, Pampolha surgiu ao lado de Lula em uma série de visitas do presidente ao estado do Rio. A presença marcou um contraste em relação a Castro, que passou a evitar agendas com o presidente desde o ano passado, após ter sido vaiado pela militância petista em mais de uma ocasião.
Em Paracambi, na Baixada Fluminense, reduto do secretário de Assuntos Parlamentares do governo federal, André Ceciliano (PT), Pampolha foi recebido de forma cordial, sem passar por apupos da militância. No palco, mencionou ter feito aniversário na véspera e disse a Lula que considerava “um presente” dividir palanque com o petista:
— O governo do estado faz questão de trabalhar junto com vossa excelência. (…) Só dessa forma, de mãos dadas, vamos conseguir construir esse Rio que a gente deseja.
A movimentação de Pampolha para concorrer ao governo tem o aval de caciques do MDB que são próximos a Lula, como o governador do Pará, Helder Barbalho, e o ministro dos Transportes, Renan Filho. Castro, por sua vez, busca isolar Pampolha de partidos de sua base e até dentro do próprio MDB.
Fonte: O Globo
