Justiça americana condena ‘Rei Arthur’ por compra de votos para Olimpíada do Rio
O empresário brasileiro Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como “Rei Arthur”, foi condenado nesta quarta-feira (4) pela Justiça norte-americana dentro do escândalo da compra de votos para escolha da sede dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
A decisão é fruto de processo aberto nos EUA, onde o réu assumiu o crime. Ele terá que cumprir uma pena de três anos de liberdade condicional, seja na própria residência ou em uma moradia oficial supervisionada pelas autoridades estrangeiras. O empresário irá ter de entregar U$ 2 milhões de dólares à Justiça.
Segundo os documentos que embasam a decisão, proferida pela corte do distrito Leste de Nova Iorque, o “Rei Arthur” influenciou o Comitê Olímpico Internacional (COI) ao transferir U$ 2 milhões para pessoas físicas e jurídicas ligadas à jurados com poder de voto e influência na eleição realizada em 2009, na Dinamarca.
Em depoimento em julho de 2019, o ex-governador Sérgio Cabral admitiu em depoimento no Brasil que comprou por US$ 2 milhões os votos que garantiram a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016.
O pagamento teria sido determinado por Cabral e feito por Arthur Soares. Os US$ 2 milhões, diz o Ministério Público Federal, foram feitos ao senegalês Lamine Diack, membro do COI que teria repassado parte do valor para outros membros africanos do Comitê.
Em 2019, Arthur chegou a ser preso em Miami, mas foi solto horas depois.
As negociações de agosto de 2009
Segundo o processo brasileiro sobre o caso, as negociações seguiram a seguinte cronologia:
- agosto de 2009 – Há cerca de dois meses para o anúncio final, o ex-presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, ex-diretor de operações do comitê Rio 2016 Leonardo Gryner e Cabral se encontraram com Lamine Diack, oportunidade em que o senegalês indicou seu filho (Papa Diack) para tratar de pagamentos por “patrocinadores”.
- agosto de 2009 – Gryner foi apresentado por Cabral a Arthur Soares, aproximando-os para acertar o pagamento aos Diack.
- setembro de 2009 – Aconteceu em Paris o episódio que ficou conhecido como “Farra dos Guardanapos”, que contou com a participação de vários integrantes da organização criminosa chefiada por Cabral, inclusive Nuzman.
- 2 de outubro de 2009 – Rio foi anunciado como cidade-sede da Olimpíada de 2016.
- dezembro de 2009 – Papa Diack encaminha uma série de mensagens para Nuzman e Gryner cobrando o restante dos pagamentos devidos aos seus amigos, o que indica que houve distribuição de vantagens indevidas a outros africanos.
- dezembro de 2016 – Nuzman e Gryner concedem ao LSH Barra Hotel, da qual Arthur Soares é sócio, o perdão da multa contratual e desconto de 30% sobre o valor que o hotel deveria devolver por ter descumprido acordo firmado como o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos.
Evolução patrimonial na era Cabral
O Rei Arthur é citado em diversas investigações. Ele chegou a ter R$ 3 bilhões em contratos com o Estado do Rio, na gestão do ex-governador Sérgio Cabral.
A evolução patrimonial dele nesse período chamou a atenção de investigadores: em 2006, ele declarou à Receita Federal quase R$ 17 milhões em bens no Brasil e, em 2011, no início do segundo mandato de Sérgio Cabral, o valor chegou R$ 256 milhões.
Em 2017, o Fantástico mostrou que o empresário vivia em uma ilha de milionários na costa de Miami, na Flórida. Em uma mansão de sete quartos e piscina, com 460 metros quadrados, avaliada em quase R$ 14 milhões.
G1*